segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"Brincamos, não?"

Margot Fonteyn dizia que "a única coisa importante que tinha aprendido com os anos era a diferença entre o levar o seu trabalho a sério e o levar-se a si mesmo a sério.  O primeiro é crucial e o segundo é um desastre."

Como o leitor já pode ter notado, eu gostaria de viver em democracia. Nesse sistema, que os que tomam a norma pela verdade nos repetem ser impossível, o estatuto das pessoas está garantido só por serem pessoas: não precisam de se levar a sério e podem manter o que a infância tem de bom. É claro que, nesse sistema, como noutro qualquer, as mais felizes são as que levam tão a sério o seu trabalho que nunca fariam algo de que não gostassem muito -- tirando alguns momentos de aflição financeira:-)
Ora, salta à vista que, em oligarquia, os momentos de aflição financeira não são momentos, chegam a ser vidas. Daí que a felicidade interna bruta (FIB) das sociedades em que vivemos seja aflitiva.

As pessoas que se levam a sério estão tão ocupadas com o seu personagem que não têm vagar para apreciar as outras. E ficam incomodadas ao ver personagens que mudam, personagens que se tomam pelo que são e que brincam de mudar porque têm pessoas por detrás.
Esse "desastre" (de se levarem a sério) há de ser menos frequente em democracia. Pois como há de um "político", um encarregado de executar uma decisão da Assembleia, que tenha sido escolhido à sorte, falar paternalisticamente connosco sem estar a brincar?
Mas, enquanto não criarmos a democracia real, directa, em que votamos ideias, leis, mas nunca pessoas, estamos a colocar aqueles que encarregamos de nos representar, os políticos, numa situação em que é demasiado difícil não se levarem a sério -- um "desastre"!
E, ocupados tão seriamente com a sua personagem, com a sua imagem, como teriam ainda vagar para levar a sério o seu trabalho, o de realizar as nossas democráticas aspirações? "Brincamos, não?"


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