quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nick Sloan

O Nick Sloan é a personagem que o realizador / actor cria, num filme feito com muito cuidado, muito carinho -- um trabalho decente.
Personagem de uma geração que não falhou o que lhe competia: dizer àquela de hoje, geração e meia depois, que há um trabalho por fazer. Desta vez não serão amadores, porque o adversário já é dissimulado, já tem armas electrónicas... mas o fruto está a ficar maduro para ser colhido.
A próxima dúzia de anos tem muito a ver com o Maio de 68 e o 25 de Abril mas já não há ingénuos, nem dum lado nem do outro. As calças à boca de sino não eram práticas e os tempos são, definitivamente, reais!
Os estudantes soixante-huitards não eram vítimas das relações de produção, que conheciam dos livros: hoje são.
Conta-se que, em Paris, sabendo eles de uma manifestação operária, marcharam às centenas ao seu encontro e, quando as duas colunas de gente se encontraram, um estudante disse, teatralmente: "estamos aqui para vos servir!". Ao que um operário respondeu, do outro lado: "Traz-me uma cerveja!".
O idealismo dos estudantes pequeno-burgueses será, hoje, o dos operários sindicalizados que se juntem às multidões de desempregados, muitos deles licenciados, que encherão as ruas.
Na crise final do capitalismo, os proletários, enquanto classe, residual, aqueles que ainda não tenham sido substituídos por máquinas, tenderão a ser reaccionários, a querer restaurar o sistema para as suas boas "leis laborais", que os salvem do desemprego. Mas o sistema não será restaurável, será demolido -- melhor! -- cairá, com ou sem a ajuda da vanguarda da classe operária, ou do seu fantasma.

O filme passa-se na América dos nossos dias, com personagens que sonharam, há mais de 30 anos, a "segunda revolução americana", que acabaria com as guerras, criadas pela procura de lucro dos senhores da indústria de armamento e pela estratégia de fazer os países do outro lado da "cortina de ferro" sentirem-se ameaçados e gastarem muito mais de metade do seu produto com a defesa, não podendo, assim, ter um nível de vida que rivalizasse com o dos americanos.
Caído o muro de Berlin, tendo deixado de ser preciso mostrar que se vive bem no Ocidente, o nosso nível de vida já pode descer para o dos anos 40, ou pior. Os anos 60 foram um investimento da oligarquia, bem sucedido!

A revolução estudantil americana não costuma aparecer nos filmes, nem neste aparece, só indirectamente. Foi uma revolução não violenta, com um apoio maciço da população; conseguiu acabar com a guerra do Vietnam e trazer os "direitos civis". Mas a oligarquia financeira saiu incólume, ridicularizou as ideias de Karl Marx, anunciou o "fim da história", e, só agora, quando os meios de produção do planeta inteiro lhe estiverem nas mãos, sucumbirá às leis do materialismo histórico, que já ninguém estuda!


Apreciei, no filme, a passagem de testemunho de uma geração e a ideia tão clara da não-violência: o melhor do que aprendemos. Também apreciei a viragem de bordo que a Julie Christie fez, no fim, ao seu barco à vela, mas custou-me!

The Company You Keep (film)


E, se quiser treinar para revolucionário, aprenda com os Occupy!


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