sexta-feira, 31 de maio de 2013

Que querer?

 As situações aflitivas podem ser criativas. As mudanças dos nossos hábitos de conforto podem-nos ajudar a questionar os nossos hábitos mentais, a realidade pode-se desenquadrar e vermos o que está fora do caixilho, aquilo para que não olhávamos, podemos entrar pela paisagem dentro, caixilho e parede eram um sonho, afinal, e além do que víamos, vemos tudo. Todos desenquadrados poderíamos encontrarmo-nos na Realidade comum, maior que a soma dos numerosos pontos de vista actuais e poderíamos sentir "em cada esquina um amigo", alguém a quem não precisamos de explicar nada porque vê como nós vemos.
Dizia o poeta Agostinho: "das dificuldades tirar vantagens" -- e grande vantagem seria!
O "outro" deixaria de ser um adversário ou coisa que o valha, deixaria de estar sujeito ao nosso julgamento tacanho, porque ambos o teríamos perdido, o nosso próprio enquadramento.
Trataríamos todos, naturalmente, das tarefas à mão: alimentar sete mil milhões de pessoas, usando imaginação, ciência e técnica; construir as fontes de energia que nos libertassem dos combustíveis; plantar as arvores que permitissem acabar com os desmatamentos das florestas virgens...
Livres das trabalhosas tarefas da guerra e da produção de objectos inúteis, livres da obsessão do lucro, estaríamos ricos, com tempo para o que é preciso fazer.
Livres do medo que criamos uns aos outros é natural que pudéssemos ver o encanto de tudo e de todos, que nos pudéssemos deslumbrar com o mistério da vida, do cosmos -- ou do caos organizado por leis a descobrir.
É bem possível que estes anos não sejam apenas o fim da Revolução Industrial, que durou 250 anos, mas sejam, também, o fim da Revolução Agrícola, que durou mais de 5000 anos. "Grande nau, grande tormenta" mas pode bem ser que aportemos a uma terra desconhecida -- que sempre lá esteve mas onde só esta viagem nos poderia trazer!
Quanto mais o chão que pisamos se mover mais apreciaremos chegar a terra firme, quanto mais sede melhor nos há de saber a água das fontes e o riso das ninfas.
"Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
 Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo."

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Que se lixe a Troika

Para anunciar a grande manifestação internacional de 1 de Junho (o próximo sábado) há um buzinão amanhã, às 17:30, em várias praças de Lisboa e, quiçá, por todo o país.
A manifestação de 1 de Junho dirige-se contra a austeridade, de facto contra a oligarquia internacional, pela democracia real.
O mais perto que estará das entranhas virtuais do sistema será em Londres e em Nova York, onde
a Praça da Liberdade, junto a Wall Street, será de novo ocupada por uma manifestação (não se fica de noite mas no dia seguinte e no seguinte...)
Em Portugal haverá manifestação em 18 cidades e, haverá cidades manifestando-se em Espanha, Grécia, Itália, Inglaterra, Irlanda, Alemanha, França, Áustria, Holanda, Suíça e Croácia --  a que se juntarão mais, palpita-me!

A consciência de que isto assim não pode ser está-se a tornar aguda, dolorosa, mesmo! Mas este movimento é pacífico, a não-violência é timbre da Revolução Mundial, de que o 1 de Junho é mais um passo, tranquilo, responsável -- e livre! É um passo responsável rumo à Liberdade, à Democracia directa, à substituição da oligarquia financeira internacional por um sistema decente. A manifestação é um espaço de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. É de todos.

terça-feira, 21 de maio de 2013


Há um predador que não se limita a pescar mas acaba com a raça dos peixes e de tudo o que mexa: o homo sapiensaquele que fica no topo da cadeia alimentar, que até aos seus persegue e que desperdiça comida. Espécie muito jovem, ainda não encontrou o seu equilíbrio com o meio ambiente e tem o poder de o tornar inabitável. Muito recentemente, há sinais de que esteja a começar a usar a sua maior vantagem biológica sobre os outros animais, a acumulação de experiência e conhecimento em artefactos exteriores ao seu cérebro e interligados em rede, para evitar a destruição previsível do seu habitat. 
A transformação que esta espécie está a sofrer terá impacto em toda a biosfera, tão poderoso e numeroso este predador se foi tornando, nos últimos anos. Na história destas espécies, só as bem adaptadas, as que não caçam mais que o que precisam, sobreviveram. Sobreviverá o predador mais temível do planeta?

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Tempos de mudança: tempo de aprender o que esquecemos!

Foi graças àquele vídeo contínuo ali ao lado, "A REVOLUÇÃO GLOBAL", que conheci este Workshop de um dia, que Marshall Rosemberg fez, em Abril de 2000, em San Francisco, na Califórnia.
Este homem viveu os motins raciais de Detroit, em 1943, com nove anos e formou-se em Psicologia com a intenção de contribuir para que essas coisas não acontecessem. No último ano do doutoramento um professor disse-lhe que que talvez os doentes não estivessem doentes mas a cumprir instruções da sociedade em que cresceram.
"Ando eu nove anos a estudar e diz-me isso agora! E como tratá-los? -- Isso é o que tu vais estudar e descobrir!"
Ele "escavou", então, até à Revolução Agrícola, ou revolução neolítica, ao tempo em que fomos "expulsos do paraíso", para descobrir que, segundo os antropólogos, as sociedades de caçadores / recolectores do Paleolítico não tinham esta nossa noção de justiça, de que devemos ter o que merecemos, esta nossa tendência para mandar ou para ser mandado (que é a mesma coisa) mas antes sentiam o que os outros sentiam e procuravam satisfazer as necessidades uns dos outros.
Pôs-se em campo para criar um método de nos levar de volta ao paraíso (embora não tenha feito esta analogia bíblica!). E ensina a Comunicação não violenta, uma técnica que temos que reaprender:



Vale a pena aprender inglês só para ouvir estas aulas (há mais vídeos no YouTube) que me fizeram pensar em Agostinho da Silva e em que talvez seja mais fácil aos portugueses que aos americanos esta reaprendizagem do encanto da vida -- reconhecendo que estes milhares de anos de desvio cultural foram necessários. Que a ciência é óptima e para continuar mas que chega de violência -- já fez muitos estragos!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

"O Capital", o último filme de Costa-Gravas

"O Capital" é um filme de Costa-Gravas que conta a história de um presidente de um banco francês internacionalizado e que, de uma forma humana e tranquila, nos mostra os jogadores do jogo financeiro, indiferentes aos despedimentos que provocam. Há um personagem americano, que compra bancos ao serviço da oligarquia internacional (dos tais 1%, os donos virtuais do dinheiro virtual) que diz, a certa altura: "dizem que o dinheiro é um instrumento mas enganam-se, ele é o senhor (master), nós somos os seus instrumentos. Há, no filme, uma analogia subtil entre as crianças viciadas em jogos electrónicos (videogames) e os adultos, nesse jogo financeiro: crianças grandes (mas, de facto, a idade média do jogador de videogames é 32 anos).
Cá em Portugal os jogadores mais poderosos, como os senhores da EDP, costumam comprar os árbitros (os governos) e, quando aparece um juiz de linha, como este ministro da economia actual, que não parece comprável, ele é cilindrado por quem nele manda, pelo árbitro.
Trata-se de um jogo de azar, que só convém à banca e que arruina os incautos -- que somos nós todos, aqueles que emprestam aos jogadores, cheios de pena deles, que tiveram azar!
Na sessão em que vi o filme mais ninguém o estava a ver -- a realidade, mesmo quando feita espectáculo por um mestre do cinema, é uma maçada!

sábado, 4 de maio de 2013

Quem me dera em Maio!

Ter à volta de 25 anos, viajar pelo cyberespaço até às ilhas Caimão, ou onde seja que o desequilíbrio, a guerra do dinheiro virtual com a nossa liberdade, se esconda. Esvasiá-lo como a um balão de carnaval e permitir a Paz, alguma Justiça, porque não?
Nós queríamos o fim da censura e conseguímos! De que nos serve, porém, a liberdade, que temos, de dizer, de escrever, de filmar, de denunciar -- se a fome alastra, ainda mais que então?
Europa, aqui em fotografia tirada ao longe, é uma gigantesca escultura natural da filha do rei de Tiro cavalgando um Touro pelo mar fora.
Zeus, disfarçado de belo touro branco, não teve dificuldade em seduzir a princesa asiática que brincava na praia (a Fenícia era onde hoje é o Líbano) e nadou, com ela às costas, até Gortina, que fica na mesma ilha de Creta onde
Terracotta ateniense do século V antes de Cristo
o deus nascera, e onde a amou, tendo voltado à a sua forma humana (Uma só de homens, uma só raça de deuses: de uma só mãe respiramos ambos, versejava Píndaro)
Aruba, ou eurupa, em árabe, quer dizer "bela amante" e esta língua tem a mesma origem da dos fenícios.
Acho graça aos símbolos e parece-me bem que a Fenícia, onde terá aparecido o primeiro alfabeto, e Creta, que civilizou os gregos vindos do norte -- a origem da nossa Civilização de homens livres -- façam parte da história mítica de Europa.

Pode ser que Europa seja uma ideia, a de amar a liberdade de todos, "dos nossos e dos não-nossos".
E são inúmeras as formas que temos de a amar, de Norte a Sul e de Leste a Oeste.
Por cá, por exemplo, alimentamos uma multidão de privilegiados só para ter o prazer de os ridicularizar,  para ter, como poderosos, criaturas que se aproveitam do Estado com tanta inocência como nós gostaríamoss de saber fazer: ridicularizarmo-nos a nós mesmos é a nossa maneira de ser livres.
Hoje, por amizade, ao saberem que eu não iria pedir um subsídio a que as nossas fantasistas leis me dão direito, zangaram-se comigo a sério. Parecia-lhes tão deselegante como deixar comida no prato. O Estado é, na nossa fantástica cultura, uma fonte inesgotável mas de que só os mais espertos, os mais corajosos, os mais simpáticos, se sabem servir.
Lá para o Norte de Europa, por exemplo, encarregam alguns de gerir o património de todos mas vigiam-nos com cuidado, não se perde uma migalha -- e são mais ricos, claro! Sentem-se livres porque fazem contas e nada lhes falta. A história da cigarra e da formiga -- ambas amam a liberdade mas agem diverso.
Não julgo, porém. Uns e outros teremos que inventar um novo Estado de coisas, este acaba. Um em que seja respeitada, por todos, a liberdade "dos nossos e dos não-nossos".