sábado, 1 de fevereiro de 2014

Desinformação numérica

O jornal Publico  de ontem trouxe para noticia de maior destaque  os 6000 milhões de euros que o novo QREN destina a “apoiar” – não sei com que taxa de juro – as pequenas e medias empresas, as PME, distribuindo-os no tempo que vai até 2020.
O destaque da noticia sugere-nos que ela seja importante, que se trate de muito dinheiro e, afinal, são as PME que nos mantêm vivos.
É uma ocasião para reflectir sobre a desinformação a que estamos, quotidianamente, sujeitos. 
Os números que ficam para cima de milhares de milhões não são intuitivos, não são comparáveis com nada que conheçamos—exceptuando alguns empresários— e, numa palavra, nada nos dizem! Talvez por isso sejam apresentados sem pudor como sendo “grandes números”, que irão ajudar a “nossa economia” a recuperar até 2020.
Pouca gente se dá ao trabalho de os tentar comparar com algo que conheça e, assim, a impunidade da desinformação quase nem o mérito da coragem tem.
Mas decifremo-los.
O valor dos juros que pagámos nos últimos três anos, por ano, é sempre superior a 7000 milhares de milhões de euros, ou seja, é mais de mil vezes superior ao valor do QREN destinado às PME para os  próximos 16 anos. Bastaria baixar uns décimos a taxa de juro para não precisarmos da “ajuda” europeia. E, se a Europa, livre do tratado de Lisboa, permitisse ao Banco Central Europeu fazer, aos Estados Europeus, a taxa de juro que faz aos grandes bancos – 0,25% —não só  poderíamos gastar um milésimo dessa poupança a ajudar as PME como deixaríamos de ter deficit e estaríamos a pagar a divida— em vez de estarmos a endividarmo-nos mais para lhe pagar— apenas— os juros.

Quando, em 1974, recuperámos a democracia parlamentar representativa— interrompida pelo anterior golpe militar vitorioso, o de 28 de Maio de 1926— as pessoas que apareceram, como deputados ou governantes, pouca ou nenhuma experiencia política tinham. E, por isso mesmo, eram milhares de vezes melhores representantes nossos que as actuais, com curricula politico nas suas juventudes partidárias.

No mesmo jornal podem-se ler, hoje, os artigos de opinião de José Pacheco Pereira e de Vasco Pulido Valente, ambos criadores do PPD de Francisco Sá Carneiro, ambos trucidados, durante anos, pela esquerda bem pensante, e que, hoje, apenas por serem lúcidos, sem saírem da sua posição social-democrata, são milhares de vezes mais úteis à democracia que o maior partido da esquerda—um dos partidos da partidocracia, ou, como gostam de se chamar a si mesmos, do “arco da governação”. Entre parênteses, coisa que este teclado perdeu, não sei se me incomoda mais a exploração desenfreada do povo português que esses partidos, aliados da oligarquia internacional, fazem, ou o uso que fazem da nossa língua, falada e escrita!

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