domingo, 19 de abril de 2015
A verdade e o poder
Quando assim falou, dizendo que os portugueses podiam estar descansados porque as reservas do Banco Espírito Santo eram suficientes para aguentar o pior cenário, Cavaco Silva baseava-se em informação do Banco de Portugal mas tinha tido contactos com Ricardo Salgado. Podemos pensar que quisesse evitar uma corrida ao Banco, que seria desastrosa, podemos pensar que o Sr. Professor seja crédulo… enganou-se, enganou-nos, como se sabe.
O que já não é aceitável, sob qualquer ponto de vista, é que nos venha dizer, nesta resposta a uma jornalista, que é mentira atribuir-lhe alguma declaração sobre o BES, apenas aceitando ter feito declarações sobre o Banco de Portugal.
O nosso Presidente da República considera-se uma pessoa muito rigorosa, são palavras suas, mas os factos desmentem-no.
O que neste caso me interessa é a veemência com que diz “É mentira!”, referindo-se a algo que é verdade. Quando a realidade não é do nosso gosto, é normal a tendência para a negar; somos capazes de fazer, instantaneamente, uma racionalização que nos descanse, sobretudo quando o assunto se tinge de emoção. Somos assim, as emoções, sem -- ou mesmo com! -- a nossa atenção critica e consciente, tendem a comandar os nossos actos.
Depois do desastre se vê se a estrutura mental do infeliz actor sofreu a influencia da antiga Grécia, se valoriza a verdade ou se prefere valorizar a vaidade, se o erro o aflige ou não.
Quando os factos põem em causa estruturas mentais sem as quais não sabemos que fazer, quando os factos põem em causa o poder, que temos ou pensamos ter, quando são demasiado “incómodos”, quando pedem que abandonemos um paradigma, os temperamentos mais conservadores tendem a negar os factos, a negação é um processo banal de adaptação psicológica. Banal mas desastroso para quem queira ser consciente.
Estamos em tempos de mudança, há negações à escala planetária. A negação das crescentes temperaturas, do risco de ficarmos num planeta inabitável é das mais chocantes, sobretudo porque sabemos que tem origem na ganância do lucro das companhias de petróleo.
Mas há outras e, se o leitor entender bem o inglês, decerto vai apreciar este documentário, The Day Before Disclosure.
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