domingo, 5 de abril de 2015

Aleluia


A Primavera é a Ressurreição da Natureza, o triunfo da Vida; a esperança de frutos, com o nascer das folhas que os hão-de alimentar, das flores que, amando-se, os hão de gerar.
Tudo pode ser símbolo, assim a Páscoa.
Para ressuscitar é preciso morrer. Para que a casa esteja limpa para a festa é preciso abandonar o que já não serve, o lixo que se acumulou pelos cantos.
Na nossa cultura era costume tomar banho, pela Páscoa, e lavar a alminha, com a confissão anual.
Procurar, no inconsciente, o lixo que se acumulou; descortinar (descobrir, correr as cortinas) aquilo que, desnecessário, atrapalha a vida. Velhas culpas, velhos rancores, memórias recalcadas -- e fazer disso o estrume que a alimenta, decompondo-se, química ou alquímicamente.

Assim como o lixo nos sapatos atrapalha o caminhar, pede que paremos e nos descalcemos, assim as culpas, nossas e dos outros, pedem que paremos, falemos com elas o falar da vida, da esperança dos frutos, e as deixemos para trás, não guardando delas mais que a sabedoria que nos deram, a Paz que vem quando se entende com o coração. 

Criticar a cultura em que nascemos pode ser uma forma de amor. Uma forma de a ajudar a “ressuscitar”. Cito aqui Frei Bento Domingues, hoje no “Público”: "Não sendo especialista das alterações da geografia do catolicismo português nas últimas décadas, é de supor que só nas cidades e nas suas periferias — em permanente mudança e reconfiguração — poderá ressuscitar. Os modelos rurais do passado serão impraticáveis”.

Sou dos que não “sabem” se o pregador da Galileia de há dois mil anos ressuscitou na carne. Mas sei que a essência da sabedoria que deixou -- “amai o próximo como a vós mesmos” -- merece ser “ressuscitada”: Só se nos amarmos a nós mesmos saberemos amar. Se o Catolicismo “ressuscitar”, nas cidades ou no campo, ele ensinará as crianças a amarem-se a si mesmas, ter-se-à libertado da compulsão para as adulterar, amedrontar, infernizar com a culpa do pecado original -- lembrar-se-à que Cristo o lavou no Baptismo. Curiosamente, o artigo citado intitula-se “Páscoa de muitas Páscoas” e estamos em tempos de mudança, esta Primavera pede uma limpeza ainda mais radical que nos outros anos! Há muito passado para deixar para trás.
Aleluia!


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