sexta-feira, 17 de abril de 2015

Uma notícia que vem da Islândia

Há dezenas de anos que é assim: os bancos podem emprestar o dinheiro dos seus depositantes e ficar apenas com 10%. E podem ir buscar ao banco central 100, ficar com 100 nos activos e emprestar 90.
Ou seja, criam moeda. Se emprestarem os 90 a outro banco este pode emprestar 81 e por aí fora…
É claro que, na origem destas leis que regulamentam o sistema bancário, estão -- os banqueiros. Donos dos bancos centrais, que são “independentes” dos Estados, e donos dos nossos governos, “livremente” eleitos mas por eles escolhidos para o serem.

Com o tempo toda a sociedade foi ficando endividada e mesmo quem resiste está a pagar impostos que se destinam a pagar os juros da dívida “soberana”.
Há uma “narrativa” que nos vende este sistema como o único possível e a pobreza de todos como o resultado do “livre” endividamento de pessoas e Estados. Diz-nos que pagar os juros é o que fazem as pessoas honestas e não quer saber de como isto aconteceu. Nem de onde nos leva este caminho de endividamento “infinito”, agora para pagar juros.

Mas houve um povo que resistiu; que apresentou à Justiça os governantes e banqueiros que levaram o país à bancarrota. E que, esta semana, teve a coragem de pôr o sistema em causa: daqui para a frente os bancos só emprestam o dinheiro que têm, são forçados a ter reservas no banco central: deixam de produzir moeda, deixam de ser como todos os bancos do mundo. A coroa islandesa não sofreu com a medida, pelo contrário, e esta experiência de um povo que tem menos de 400 000 habitantes é uma grande contribuição para resolver um dos magnos problemas do nosso tempo: o de vivemos num sistema que nos empobrece, aceleradamente.

No último “post” republiquei a entrevista catalã a Eduardo Galeano, de 2013, a propósito dos “indignados” da Praça do Sol, em Madrid. Diz ele que o mundo se divide em indignados e indignos. Fiquei a pensar se a preguiça de pensar, que permite a tanta gente fugir ao desagradável que é sentir-se indignado, será uma “indignidade”. Fiquei a pensar se se pode falar assim, dar ao Homem a responsabilidade de ser consciente, de resistir, como os islandeses, à narrativa oficial.
É inegável que esse povo nos deu um exemplo de coragem e dignidade.

Última hora: O primeiro-ministro descobriu que, sem “outras políticas estruturais”, não baixamos o desemprego para menos de 10%. Tudo indica que irá dar o exemplo da Islândia na reunião intergovernamental da União Europeia.
Acrescento ao “post” (19 de Abril): Há indícios de que a “descoberta” do nosso eleito (de que não poderemos sair disto sem “outras políticas estruturais”) se deve a ter sido tratado pelo médico hipnotizador nova-yorquino Michael Ellder, aquele que escreveu:
"Olhem para nós. Está tudo ao contrário. Tudo de cabeça para baixo. Os médicos destroem a saúde. Os juristas destroem a justiça. As universidades destroem o conhecimento. Os governos destroem a liberdade. Os grandes meios de comunicação destroem a informação e a religião destrói a espiritualidade.” 
Mas parece que o efeito do tratamento é temporário e em breve veremos o nosso eleito gabando-se publicamente de ter descido o desemprego para 15%.

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