Este cidadão com dupla nacionalidade, a angolana e a portuguesa, está a chegar a um mês de greve de fome, lutando assim pela sua libertação, pela dos seus colegas ilegalmente presos, como ele, mas também pela libertação do povo angolano.
Sabe a fisiologia que, a partir de agora, por falta de proteínas, sobretudo, terá danos irreversíveis no organismo. Não sabemos o que tem o soro que, nestes últimos dias, a propósito de que não consegue beber, lhe estão a administrar, tendo-o o poder transferido da prisão para um Hospital, certamente por medo, mas quiçá por um muito tardio despertar da consciência que nos é comum, a escravos e a tiranos, por mais que a enterrem.
Além de, mostrando ao mundo a situação política angolana, a de uma oligarquia tirânica vestida de “democracia”, Luaty estar a tirar o chão ao governo de Angola, ele está a mostrar a todos os que habitamos a Terra a eficácia do caminho da não-violência.
Reflectindo sobre a luta dele, os portugueses podem ver a oligarquia caseira e a mundial, menos visíveis que a angolana, mas análogas.
Podemos, em todo o mundo, tomar consciência de que a vida está dominada pelo dólar, produzido aos triliões pela Reserva Federal, a partir do nada, instrumento capaz de comprar países, submergir consciências, empobrecer todos.
Podemos pôr em causa que seja fabricado por privados (sem mesmo o materializarem em notas!), que o entregam a bancos privados, que o fabricam, também eles, ao poderem ficar, por lei, apenas com uma reserva de 10% do que emprestaram. E podemos interrogarmo-nos a que propósito pagámos juros por isso, e impostos para pagar juros das dívidas dos Estados; dinheiro que gera poder, que gera dinheiro, que gera poder, que gera dinheiro…
Angola e os seus governantes escravos do dólar, serve para caricaturar o mundo, para o entendermos.
E serve para nos mostrar que a revolução em curso só pode ser não-violenta. Só pode acontecer a partir de um número suficiente de cidadãos conscientes. Um número preciso de pessoas, no mundo. Um limiar biológico da Terra.
Nos organismos há limiares. Tomemos como exemplo a glicemia, a taxa de glicose no sangue; a glicose é um açúcar, o nosso combustível para funcionarmos, vivermos. Há um limiar, um número preciso abaixo do qual o organismo entra em coma. Um outro, mais abaixo, a partir do qual entra em choque e morre. Depois de transformar as proteínas dos seus músculos em glicose até esse número, Luaty morre, dentro de duas ou três semanas, no máximo, se não lhe for dada glicose.
Da mesma forma, admitindo a hipótese de Gaia e nós nela, há um limiar, um número de pessoas conscientes a partir do qual tudo muda, abruptamente. Pode ser como o limiar de ruído a partir do qual, por mais sonolentos que estejamos, acordamos. Há um limiar para tudo.
Passou, no Rivoli, um filme sobre um aspecto da obra de Fanon, sobre a descolonização, que alguns interpretam como uma “justificação” da violência, perante a quotidiana violência que é qualquer colonização. Como aquela a que o dólar sujeita o mundo.
Mas não é um caminho, violência gera apenas violência, não gera Liberdade. O MPLA usou a violência contra o colonizador, tinha, obviamente, a Justiça do seu lado -- mas gerou o pesadelo presente em Angola. Gandhi usou a não-violência e conseguiu uma independência real, conseguiu manter o melhor da cultura do colonizador (universidades magníficas, por exemplo) e um caminho de libertação que a Índia continua a trilhar.
Luaty Beirão, ao escolher a luta não-violenta, é, neste momento, um farol para o mundo.
Embora a nossa Embaixada em Luanda se tenha preocupado, o nosso governo cessante e o nosso presidente da República cessante, ao não falarem em nome dos Direitos Humanos, neste caso e neste momento, ajudam-nos a perceber que nos não representam, embora eleitos.
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