sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Oligarquia real

O sistema político em que vivemos nada tem a ver com Democracia: é uma oligarquia.
Os cidadãos querem deixar de ter serviço público de televisão? -- Pelo contrário, querem-no melhorado, independente, precisam, cada vez mais, de estar informados, de estar conscientes, de controlar os seus eleitos.
Precisam muito de um serviço público que explique as manobras de desinformação a que são, quotidianamente, sujeitos.
Se se prevê que a RTP tenha 25 milhões de euros de lucro, no próximo ano, a justificação contabilística para a vender não tem fundamento.
A manipulação da opinião pública precisa de ser investigada, discutida e exposta publicamente. O serviço público de televisão tem esse papel. Assim como o de apresentar as propostas que vão aparecendo para que saiamos desta oligarquia. Por exemplo a utilização do internet para referendos -- é possível, hoje, criar um sistema democrático. Passa por compreender como funciona esta oligarquia para a substituirmos, pacificamente, por uma democracia real.



quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Morreu ontem, aos 95 anos, Alfredo Ribeiro dos Santos, um homem bom, íntegro, que cultivava a amizade.
Democrata republicano, nunca aceitou o golpe militar de 1926. Participou activamente na candidatura do General Norton de Matos para a Presidência da República e sempre, pacificamente, em todos os protestos que foram acontecendo, durante os 50 anos que durou a tirania.
Bibliófilo, historiador da nossa cultura, é respeitado por comunistas e por salazaristas e orgulhava-se de ter sido amigo de pessoas como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Abel Salazar, e de tantas luzes que brilharam durante a longa noite fascista. Deixou livros que serão consultados pelo tempo fora.
Agnóstico, humanista, um espírito lúcido com um grande coração.
Fez inúmeras anestesias no Hospital Conde S. Bento, no tempo da Misericórdia, antes do SNS, quantas delas de graça, porque assim eram os tempos, antes do direito à saúde -- o qual de novo nos roubam, pela calada.
Fica na memória dos seus muitos amigos.

domingo, 26 de agosto de 2012

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

01.04.1931 Fernando Pessoa

O primeiro dever do "poeta", de quem escreva um texto, é o de escrever bem. E, para escrever bem, não basta não ser expontâneo, é preciso "fingir completamente". Só assim os leitores podem sentir "dores que eles não têm". 
Um texto mal escrito nada acrescenta aos que lêem. Nada sentem ou sentem dores que têm. E um texto mal escrito não comunica, claro, o que não pode, com ou sem arte, "a dor que deveras sente".
Nem consegue fazer o verdadeiro papel da escrita, a alquimia que liberta a dor em arte, uma dor que se sente mas não dói, encanta. 
O poeta é um cozinheiro, transforma dores cruas, intragáveis, no prazer de as ler.
Um texto mal escrito é um pecado, um desperdício de dor.  Um nojo para os que o lêem, uma vergonha para o cozinheiro. 
Ai do escritor que, na ânsia de ser autêntico -- que nunca é -- não prova a comida que manda para o texto! Recebe-a de volta, crua, sem tempero -- recebe, de volta, "a dor que deveras sente".
E assim dá corda ao combóio, "que se chama coração".

sábado, 25 de agosto de 2012

Petição Democracia participativa real

Recebi agora (por intermédio de um e-mail de um membro de um grupo organizado de "não violência activa", a quem agradeço) esta petição, creio que a primeira que pede a Democracia Real.
Aqui a deixo pedindo aos leitores que a assinem. Eu não a redigiria assim -- que interessa! Estaremos a pedir aos "nossos representantes", cargo que têm, embora, de facto, representem a oligarquia, que subam ao nível do seu papel de servidores públicos, que sejam o que dizem ser.
Muitos dos leitores deste blog estão nos EUA, no Canadá, no Brasil, na Rússia, na Europa, até na India e no Japão, em Macau e na África lusófona: assinem também, o assunto é internacional.
Para: Presidente da Assembleia da República

Partindo do princípio de que “a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”, então o sistema político está claramente em crise. Hoje, toda a gente sabe que os políticos são escolhidos com base numas promessas eleitorais que, uma vez no Governo, deixam de cumprir. Além disso, toda a gente percebe que a política é conduzida pelos interesses e segundo os ditames de potentados económico-financeiros que instrumentalizam as instituições políticas democráticas.
Contudo, chegou a hora de mudar! Nas grandes manifestações de rua, nacionais e internacionais, de 2011 e 2012, ouviu-se um clamor popular a pedir uma democracia autêntica. Essa aspiração passa pela possibilidade de revogação dos mandatos políticos, mediante iniciativa referendária popular, em caso de incumprimento dos programas eleitorais; passa pela viabilização de candidaturas de grupos de cidadãos eleitores, não só em eleições autárquicas, mas também legislativas; passa pela introdução do voto electrónico, a fim de facilitar a participação dos cidadãos, em qualquer ponto do país, em eleições e consultas populares; passa pela reforma do sistema eleitoral de modo a assegurar a representatividade das minorias e pela descentralização do poder a favor de regiões e municípios; passa pela convocação obrigatória dos referendos de iniciativa popular e também por orçamentos nacionais e autárquicos participativos;
Por isso, os cidadãos abaixo-assinados, indignados com a situação actual, pedem à Assembleia da República, na pessoa de V. Exa., que tome as medidas legislativas necessárias para implementar as propostas acima enunciadas, de modo a conferir autenticidade ao sistema político democrático. 

Petição Democracia participativa real

sexta-feira, 24 de agosto de 2012


Eric Clapton fez esta canção depois de lhe ter morrido um filho, de 4 anos.
Quando nos sentimos sem resposta ao Destino, quando nos não sentimos livres mas brinquedos, nas mãos, cruéis, dos deuses, lembremo-nos que podemos brincar, como eles, com as nossas vidas!
Em cada momento temos escolhas, o leitor pode ouvir esta música ou fazer um número infinito de outras coisas: somos, realmente, livres!
A cada momento que o Destino nos traz, no eterno agora, podemos reagir como quisermos. Podemos entrar em depressão só porque nos demos conta de que somos efémeros, transitórios, que já gastámos o melhor tempo do pouco que nos foi dado... ou celebrar a consciência de estar vivo, aceitando tudo o que é -- e a nós mesmos, com passado e tudo, exactamente como somos. Podemos escolher olhar para o passado como se não existisse, já que, de facto, não existe mesmo!
E podemos inventar o futuro, criar o Destino!
É um tempo de mudança: lá se vai, pelo cano, a sociedade de consumo, as férias pagas, a reforma prevista. Podemos escolher ocupar o mundo, deixar as bolsas de valores a trabalhar em seco, podemos criar uma moeda independente das bolsas e dos bancos, distribuí-la igualmente pelos cidadãos e desprezar a outra, aquela em que os "deusinhos" se divertem a transformar países e suas gentes em endividados escravos. A Liberdade, em cada momento, é uma escolha. E, se nada fizermos, estamos a escolher continuar o passado. Mas, desta vez, isso é continuar o caminhar apressado para a miséria, para a escravatura, para a morte do planeta, para a fome -- para a guerra.
Um outro mundo é possível, é possível sentirmo-nos responsáveis por que ninguém tenha fome, ninguém esteja sem abrigo... não chegámos a este desenvolvimento científico e técnico para o usarmos assim, a dar cabo da diversidade biológica e da vida dos melhores, dos mais humanos de nós.
O paraíso na Terra está ao nosso alcance e o colapso do actual sistema é muito bem vindo, é a oportunidade de nos sentirmos a família alargada de sete milhares de milhões, todos diferentes, todos iguais, todos efémeros, livres, solidários, criadores de sonhos. "Poetas à solta", como dizia Agostinho.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Em Outubro, quando os 99% perderem a paciência e sentirem a responsabilidade de acabar com o absurdo em que vivemos, os 1% acenarão com a guerra. A guerra é a solução deles, sempre foi.
Grandes negócios e os povos aterrorizados, a sua pouca liberdade, a sua capacidade de os pôr em causa destruídas, povos escravizados. A razão, a nossa arma, posta em causa, emoções patrióticas dominando o pensamento. Desperdício.
É! Eles não deixarão de jogar a carta da guerra, é um trunfo que sentirão "ser preciso" jogar. E saberão jogá-lo, saberão ser subtis:

Se caíssemos na armadilha, os 1% atrasariam, quiçá por décadas, a sua inevitável e necessária queda.
O mais importante continua a ser a consciência. A consciência clara do que queremos, a Democracia, a qual assegurará a Paz, a Liberdade dos povos, e controlará os bancos centrais.
A não-violência é essencial neste processo. Os banqueiros que se reformem, não lhes queremos fazer mal: queremos, apenas, acabar com o sistema, começar a criar o próximo.
Não temos inimigos, somos os 99%, somos os povos do mundo. Não acreditaremos nos cantos da guerra, quando nos quiserem arregimentar e lançar uns contra os outros para matar e ser mortos pelos lucros dos grandes negócios da guerra. Não há países culpados, nem sequer há culpados: há o tempo de mudar!
Quando jogarem a carta da guerra temos que ter nas mãos um trunfo maior: a Paz, a não-violência activa, intransigente, corajosa. Não passarão!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Especulações

(...) Poema onde está
A palavra extrema     

Que une e reconhece 
Pois só no poema

Um povo amanhece

A física e a matemática mostram-nos como, do caos, nasce a ordem, como aparece um atractor que o organiza.
Nós, humanos, somos diversos por natureza, configuramos o caos. Os atractores à volta dos quais nos organizamos como sociedades são sempre efémeros, como na natureza -- as sociedades evoluem.
No tempo do Império Romano, um escritor falou de um povo, nos confins da Hispânia, que "não se governa nem se deixa governar", um povo onde a diversidade era máxima, porque era ali a fronteira com o Oceano, intransponível na época, era ali que todos os migrantes se detinham, forçados a conviver. Findo o Império, era aqui o país mais diverso de raízes.
Reino do paradoxo, que quer dizer complexidade, aqui, no Ocidente extremo, medrou, como atractor, a ideia de continuar o sonho fracassado de Alexandre, o de englobar a India, o mitificado Oriente, numa nova ordem, mais rica por mais diversa, mais global. D. João II foi, momentaneamente, o atractor, em forma de gente.
"Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez": os nossos aliados ingleses organizaram o caos neste último quarto de milénio e ontem, simbólicamente, despediram-se, orgulhosos do passado, içando a bandeira grega no palco do mundo e no que foi o centro do efémero (como todos) Império que ora acaba -- o tempo da chamada revolução industrial.
Também simbolicamente, passaram o facho ao Brasil, ao maior dos países dos confins do novo mundo, a América do Sul, onde, no nosso tempo, se detêm e são forçados a conviver os migrantes de todo o planeta. Onde é maior a diversidade, o caos, e onde, paradoxalmente, é menor a entropia.

Há uma grande diferença entre a democracia brasileira e as nossas, embora também ela tenha nascido à sombra da inglesa, a qual foi o que foi, oligarquia de bancos que emprestavam o dinheiro que produziam (literalmente). É que, no Brasil, os cidadãos são obrigados a votar. Sem essa idiossincrasia brasileira é difícil imaginar a eleição de Lula, por exemplo, e a esperança que, no meio do caos, existe.

"Especulo" que, assim como, em cada um de nós, se houver algum aspecto nosso que não tenhamos integrado e criemos separação com a sua manifestação no exterior não estamos bem, estamos doentes, assim, numa organização social, se houver alguma pessoa, algum grupo, cuja "potência" (no sentido da palavra para Espinoza) não actuar no conjunto, essa não é uma sociedade natural, não é uma sociedade real, está doente.
Somos 99,9% aqueles a quem a ordem mundial em "implosão" não convém. E somos 99,9% aqueles a quem a violência não convém. A Democracia Real pode ser uma Utopia mas é para lá que caminhamos. É o atractor e a indignação é natural, é percurso.

Entrevista a Eduardo Galeano