Não se tratava apenas de um tirano, tratava-se do exército do Egipto, apoiado pela tal oligarquia internacional, a que vende armas legítimamente, a que cria guerras para defender interesses -- tratava-se dos que se opõem aos 99%, que somos nós: era, e é, a dor de parto do novo sistema.
O povo não teve força para afastar, de facto, do poder, o exército que o tomara havia tanto tempo. Votou, elegeu um civil, é certo.
Mas aqui entra o problema da "democracia representativa": não ser uma democracia! O eleito tentou fazer uma Constituição que deixava de fora muitos democratas. Estes manifestaram-se, naturalmente, mas serviram de pretexto ao seu verdadeiro adversário -- e de todos os democratas! --, o exército, que apenas recuara estrategicamente, que não fora derrubado -- para recuperar o poder, pela força.
Muitas formas haveria de procurar conversar com o presidente; e, ainda pouco antes deste milhar de mortos que a intervenção do exército causou, a União Europeia tinha conseguido da Irmandade Muçulmana que se sentasse à mesa com todos os intervenientes. Mas o exército não quis, preferiu prosseguir o seu plano: derrubar a democracia em nome da "democracia".
Conversar é sempre difícil, exige uma vontade genuína de entendimento, exige que se aceite que, da conversa, resulte algo de novo, que nem uma nem outra das posições saia vencedora mas o interesse comum.
Não nos iludamos: o adversário, a oligarquia financeira que controla o exército egípcio -- e o mundo -- controla também a informação, as emoções das pessoas; joga com elas com maestria e pôs, neste caso, democratas contra democratas, usou a velha táctica dos impérios: dividir para reinar.
A manipulação, no nosso tempo, é extremamente sofisticada: teremos que recusar a violência de forma radical, só assim poderemos -- e uns anos largos serão precisos -- criar a Democracia Real.
A razão, o diálogo, a fraternidade que havia há dois anos, se tivesse recusado, radicalmente, a violência e tivesse discutido, em Assembleias Populares, exaustivamente, as leis que a todos servissem, acabaria por vencer. E é ainda o único caminho: o diálogo, a consciência dos interesses por detrás do exército, o respeito pelo outro, a não-violência radical.
Os democratas mortos no Egipto poderão ter cumprido uma missão: alertar-nos, ao resto do mundo, para as tentativas que continuarão a ser feitas de nos pôr uns contra os outros, aos 99%. A guerra é um negócio que nos não convém. Nunca!
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| A coragem e o entusiasmo dos democratas egípcios, há dois anos. |


A reflexão mais assertiva e sensata que - até agora - li sobre o tema.
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