quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Por falar em opiniões



Fernando Pessoa, que "profetizou" estes tempos de mudança, era elitista -- e a mudança que queremos, os democratas, não é ver a oligarquia dar lugar a uma aristocracia do espírito mas a uma Democracia Real, Directa.
Porém, como ele dizia, "a verdade está no paradoxo" e, assim como, há um quarto de milénio, foi a burguesia nascente (e até algumas franjas da decadente aristocracia) quem "descobriu" o conceito (cristão!) de que " todos os homens nascem livres e iguais em direitos" e meteu mãos à obra para, desse conceito, fazer as leis da República, para criar sociedades estruturalmente diferentes, assim o que se passa nos mostra que os conceitos que hão de gerar a estrutura que venha substituir o sistema capitalista agonizante estão a nascer mais na classe média que no proletariado.
No Brasil, o recente enriquecimento da população, a nova classe média, foi quem saiu à rua, aos milhões, foram os novos desempregados quem mostrou ter consciência de que estamos em tempos de mudança.
O nosso poeta prezava a consciência, era politicamente um liberal ou, até, "um conservador à maneira inglesa" e achava que "a proletariagem não é vantagem"; mas tinha-se por "absolutamente anti-reaccionário". Os trabalhadores assalariados, agarrados ao privilégio temporário de ter "um emprego", só parecem preocupados com o desaparecimento acelerado das conquistas sociais que fizeram, não parecem querer mudar o mundo mas, antes, voltar atrás umas décadas. Paradoxalmente, não são eles os revolucionários conscientes, assim como os sindicatos não são "a vanguarda", conceito hoje desnecessário -- só se vão juntando a um movimento global que não desencadearam.
Eis um paradoxo, pois se trata de fazer a Democracia Real, o poder popular autêntico, de que todos beneficiarão. Oxalá não atrapalhem, com os seus conceitos reformistas, a criação de um sistema social novo, que substitua o capitalismo agonizante.

Outro grupo social que gostaria de voltar atrás umas décadas é o dos empresários bem sucedidos "da velha guarda", escandalizados com o empobrecimento progressivo dos povos, que atribuem à corrupção, mas que, em breve, atribuirão à decadência do sistema em que acreditaram para criar riqueza.

No cerne do sistema está o juro das dívidas. Todo o mundo está endividado e a pagar juros, países, empresas, pessoas, e o capital virtual vai crescendo nas "mãos" virtuais das grandes companhias multinacionais e "holdings" que, tendo personalidade jurídica, têm "direito" a ter propriedade (direito que lhes foi dado, nos EUA, na mesma emenda constitucional que o deu aos escravos libertados). As acções da companhia podem mudar de mão -- mudam, milhares de vezes por segundo! -- mas a companhia só pode enriquecer, é o seu destino neste sistema. E pode comprar bancos e países e tudo o que der lucro -- melhor, não pode não comprar tudo o que der lucro, os seus empregados não podem sê-lo se não fizerem isso acontecer.
Incluindo os empregados dessas abstractas (e bem reais!) personalidades jurídicas encarregados da manipulação da informação. São eficientes, ou não teriam o emprego. Vendem-nos, com eficácia, conceitos extravagantes como o de que o mundo está mais pobre que há uns anos atrás, sabendo nós que a técnica trouxe um aumento crescente da produtividade e que o mundo nunca foi tão rico como hoje. A ciência e a técnica permitem alimentar, sem dificuldade, o dobro da actual população mundial, porém, com o maior à vontade, a desinformação vigente vende-nos, com técnicas de marketing sofisticadas, a ideia de que o planeta não pode sustentar tanta gente.

A consciência deve ser o nosso principal objectivo; imersos na desinformação que é favorável ao crescimento exponencial do capital financeiro, é um objectivo ambicioso --- mas fundamental.
E falo também da consciência espiritual, da progressiva libertação da procura obsessiva de bens materiais -- para lá dos necessários ao nosso conforto! -- que a "sociedade de consumo" nos incutiu, enquanto os fabrica deliberadamente efémeros, para mais lucro obter.
A consciência, a pedra de toque da revolução global em curso, espalha-se entre os novos utilizadores da informática -- e não é por acaso que a liberdade do Internet está a ser agredida pelos "donos dos políticos"!


Joan Baez, um admirável "ser humano".

1 comentário:

  1. Senti grande frustração quando uma leitora atenta me disse, particularmente, que este post seria apreciado por gente de direita "de Lisboa" que espera um D.Sebastião salvador, ditador, que ponha isto na ordem.
    Creio que a direita acredita na necessidade de uma elite que tome as decisões por nós, ignorantes. Eu acredito que não podemos delegar as decisões políticas pois, ao fazermos isso, estamos a criar um grupo de privilegiados que toma as decisões que lhe convém mas não aos portugueses. Não precisamos de quem erre por nós. É sempre preferível a democracia à tirania e à oligarquia.
    A Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade não são compatíveis com a oligarquia vigente e, muito menos, com uma ditadura. Na Assembleia da Revolução Francesa os seus defensores sentavam-se do lado esquerdo. O lado direito tem o direito a existir mas ai de nós se entregarmos o poder político a essa minoria... Manhosamente, com rótulos de "popular", "democrático" e "social", como está à vista, entre nós, conseguiu o poder.

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