terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2009

É tão fácil prever que no próximo ano haverá mais inundações, mais ciclones, mais desertificação, menos gelo nas calotes polares, nos glaciares, como é fácil prever que um fumador vai ter mais enfisema, mais aterosclerose, mais crises de bronquite, maior risco de cancro... se não diminuímos a poluição, os fogos na Amazónia, os cortes de madeira, porque melhoraria a saúde do planeta? Porque o diagnóstico estava errado, não há crise climática? Ainda há quem assim pense, que nem há crise financeira, que "estamos no melhor dos mundos possíveis"; até há quem pense que não há banqueiros corruptos, nem políticos que enriqueçam com o cargo, nem aumento das falências, da pobreza, dos assaltos à mão armada, da fome...  pensam que são coisas cíclicas, que nada podemos fazer. Ou então que nada nos compete fazer, que isso deve ser deixado aos "responsáveis" LOL ... aos responsáveis pelo que acontece?
Em democracia somos nós os responsáveis. É duro perceber que foi a nossa inércia, o nosso entregar nas mãos de "quem sabe" (lucrar), que foi o nosso deslumbramento com o marketing, a nossa preguiça de pensar e de agir que aqui nos trouxe -- e que não é dando biliões a África que remediamos o que lhe fizémos e ao planeta.
Vejo, nos blogs tirsenses, que se escandalizam por a Câmara ter destruído um prédio. Se, de facto, ele estava numa área sujeita a cheias, fez muito bem! O risco de inundações está a aumentar. O que vejo, também, nos blogs que lhe fazem o marketing, é que se esquecem de dizer que a Câmara poderia ter embargado a obra muito antes, que parece divertir-se a provocar mais prejuízo aos infractores, a fazer espectáculo... a fazer marketing! Mas é verdade que a Geografia não perdoa um favor a um amigo, não perdoa os erros de urbanismo, há que obedecer à Geografia. Espero que a Câmara descubra que permitiu 2 ou 3 pisos a mais naquele prédio que tapa a vista da Igreja a quem descer do Kanimambo; espero que os destrua rapidamente, mais vale tarde que nunca! 
A Geografia não olha à cor política do infractor. Ela é o corpo do planeta de quem somos hóspedes. Abusar da hospitalidade é tão vil como não a praticar.
Uma coisa boa vai acontecer em 2009: o aumento de consciência das pessoas, a sua resistência ao senso comum, a sua adesão ao bom senso. Vai aumentar a nossa resistência ao marketing, a realidade vai ser mais visível, a verdade vai-se impor às verdades impostas (deve ser daqui que vem a palavra "impostura").

Esta fotografia, tirada ontem numa montra do Porto, ilustra o disparate; o marketing sabe que procuramos a segurança pertencendo a grupos "exclusivos", que conhecem quem manda, quem nos pode livrar do desemprego, dos "incómodos" da burocracia, etc. E que, para ter "segurança", estamos dispostos a excluir os outros, a gamela não dá para todos. Natal despudorado da sociedade de consumo. 
O próximo será diferente. "Não sou bruxo, tenho os pés na terra", este será um ano de mudança.
Bom ano!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Denunciar a violência

Faz hoje 60 anos que foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Não teve votos contra. Mesmo a África do Sul do apartheid ou a URSS de Stálin se limitaram à abstenção.
A dignidade humana é um autêntico desígnio do animal que somos. Os nazis mataram nos campos de concentração mas mataram às escondidas dos alemães. Ainda hoje temos naturalmente a delicadeza de não lhes tocar nessa ferida, que carregam dolorosamente -- mas não esquecemos! Denunciar a violência é um dever, escondê-la, um crime.
Jestina Mukoco é a directora do projecto Paz Zimbabwe, uma iniciativa da sociedade civil para trazer os direitos humanos à sua terra. Há uma inacreditável epidemia de fome, que agora trouxe uma epidemia de cólera, há medo, há violência... e tudo se deve à tirania de um homem que, em tempos, foi um lutador pela liberdade, Robert Mugabe; educado pelos jesuítas, diplomado por boas universidades, recusa-se as ouvir as clamorosas críticas do mundo, pensa que é o único que pode "salvar" a sua terra. Na semana passada Jestina foi raptada de sua casa por um grupo de homens armados vestidos à civil, sem farda. Mesmo os tiranos mais dementes mantêm o respeito pelos direitos humanos, tentam disfarçar os crimes. São humanos!
É fácil perdoar aos outros humanos as suas loucuras e é humano e justo que perdoemos.
Mas perdoar não é absolver! Nunca poderemos aceitar o medo, a tirania, a violência, sob que forma for. 
Aceitamos as pessoas, não aceitamos os seus crimes. Por isso Guantánamo será fechado, porque os criminosos são gente, têm direitos. E deixaríamos de estar a lutar pelos direitos humanos se pensássemos ser "mais iguais que os outros", senhores do bem fazer, livres do erro, com "direito" ao poder mesmo à custa da liberdade dos outros.

Eleanor Roosevelt, que presidiu à comissão dos direitos humanos da ONU que conseguiu juntar as nações do mundo para criar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que hoje se celebra, disse que os direitos humanos nada significariam se não fossem importantes "em pequenos lugares, perto de casa" ("in small places, close to home").

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Tempos de mudança

São tempos de mudança. Dentro da cada um de nós novas ideias combatem os hábitos; nas famílias o essencial pede novas regras de convivência; nas freguesias o desejo de  qualidade de vida vai ganhando ao de quantidade de obras; nos concelhos o ambiente deixa de ser mero "slogan", exige respeito; no país prende-se o primeiro banqueiro, um ex-político, e contesta-se a burocracia; na Europa não se aceita o tratado de Lisboa de olhos fechados; no Mundo percebe-se que a vida no planeta está em risco, se continuar a sociedade de consumo.
A chamada "crise financeira" (creio que é mais que uma crise!) não passa de um sintoma, o problema é mais profundo. A nossa forma de viver, a sociedade de consumo e a sua transformação dos recursos naturais em lixo mais ou menos tóxico, a destruição da fonte de oxigénio, das florestas, e o aumento de CO2 não são sustentáveis, estamos a caminhar para o abismo e, com os "países emergentes" a ajudar, estamos a correr para o abismo. É tempo de mudar de rumo.
Penso que é uma idade histórica que finda, a chamada Idade Contemporânea, que os historiadores fazem começar com a Revolução Francesa, em 1789, mas que começa com a Revolução Industrial, que durou anos, que é difícil de datar (1760, para A. Toynbee).
Antes da indústria o comércio era senhor. O terramoto de Lisboa, a cidade comercial mais rica do mundo, em 1755, pode ser visto como o marco simbólico de o fim de uma era. Palácios barrocos a abarrotar de ouro e diamantes foram engolidos pela terra; a Europa tremeu também, acordou para o tempo em que estava. A máquina a vapor já existia desde o princípio do século mas os escravos de África eram mais baratos e pouco se desenvolvera a indústria. A necessidade apareceu com o fim da escravatura exigido pelas ideias do iluminismo, pela Declaração da Independência dos EUA, pela guerra civil, que foi sua consequência. 
Claro que se tratou de um processo dialético, as ideias generosas que levaram ao fim da escravatura só apareceram porque as máquinas permitiram imaginar e criar a produção industrial a substituir os escravos. (Portugal, o inventor do comércio moderno mundializado, pouco ou nada ligou à revolução industrial, ficou no seu papel de velho senhor arruinado).
A indústria precisou de capital para se montar e apareceram as Bolsas de Valores e as sociedades por acções, a "city" de Londres e, mais junto de nós, "Wall Street". 
 A queda das torres gémeas de Nova York pode ser vista como um marco simbólico análogo ao terramoto de Lisboa; anunciou-nos uma nova era, para a qual acordamos, estremunhados, agora. A máquina a vapor do nosso tempo são os computadores, o internet, o Google e os outros motores de busca que dão ao leitor, neste momento, uma informação muito maior que a que pode abarcar. As fábricas robotizadas estão a libertar os operários,  deixando-os, como aos escravos no século XVIII, numa situação aflitiva mas carregada de esperança -- é um mundo novo!
Desde que Barack Obama conseguiu arranjar, no internet, centenas de milhões de dólares para a sua campanha, é de prever que a produção de energia solar e de outras que o tempo impõe se financiem assim; as Bolsas de Valores perderão poder, dispensáveis, esquecidas! 
Uma nova era.

Como vai ser esta nova era? Podemos imaginar que a democratização da informação -- o "Magalhães" nas escolas -- venha pedir aos alunos que aprendam a lidar com gigabytes. O que interessa é o que se sabe aprender, o sentido que se consegue dar à informação, ou seja, interessa ser livre, pensar pela própria cabeça. Cada escola ir-se-à "desenrascar", para criar cidadãos, como entender, ligando cada vez menos aos processos sugeridos (impostos?) pela burocracia central. Assim como o comércio cresceu (melhorado) com o advento da indústria, 
assim a democracia se vai expandir, tornar real, na era da informação. Não é tempo de tiranos, nunca o foi!


E que interessa tudo isto para o nosso Concelho, o de Santo Tirso?
Uma tão grande mudança de paradigma, a atitude predadora da revolução industrial, que nos propunha "conquistar a natureza", a ser substituída pela de ajudar a natureza a sobreviver à nossa agressão passada, pela de nos integrarmos na natureza, em vez de lutar com ela, deve ser o mais rapidamente possível assumida, de facto, pelo poder público. Não bastam as leis europeias que pedem às indústrias que não sejam poluentes, é preciso, em cada pequenino espaço, salvar a natureza. A principal indústria do país (e do concelho, creio) é a indústria da construção civil. Produz entulho em quantidades industriais e continua a descarregá-lo em áreas ecológicamente protegidas. E produz entulho quando constrói prédios nos campos férteis (vamos precisar de comida -- e que nos não intoxique --, será a prioridade dos próximos anos de aflição económica). É claro que a Câmara terá que deixar de invejar a da Maia, que não tem reserva agrícola e pode licenciar construções por todo o lado. Pelo contrário terá que aprender a orgulhar-se do seu PDM (o qual tem sabotado nos últimos anos), um PDM que não foi projectado à pressa por desenhadores, como em muitos concelhos do país, mas que tinha algum sentido de futuro, que valorizava a qualidade de vida, mesmo que à custa dos lucros a curto prazo dos empreiteiros do concelho. Terá que os ajudar a reestruturar a sua actividade: habituados a vender casas pelo dobro do que lhes custara a construí-las vão ter dificuldade em deixar de investir em casas novas. É preciso fazê-los sentir que são as casas velhas quem precisa deles, precisam de isolamento térmico, de painéis solares, por aí fora... é isso ou a falência. A Câmara e as Juntas de Freguesia terão que compreender que as aldeias não precisam de avenidas mas de ser aldeias que protegem a natureza, onde se gosta de viver, se não deita entulho; terão que acompanhar os tempos!
Alguém, na Câmara, terá lido um trabalho de sociologia (com mais de 20 anos) sobre o nosso Concelho, que teve repercussão mundial e que estudava a surpreendente sobrevivência ao desemprego dos operários da têxtil deste Concelho? Ele mostrava que sobreviveram porque ainda tinham um pé na lavoura; tinham uma horta nas traseiras da casa. Não faz isto pensar nas densidades urbanas que a indústria da construção pediu e teve? É mais que tempo de mudar de rumo. De imaginar os lavradores a vender legumes frescos no internet e carrinhas do Porto (da Maia!), de Santo Tirso, a usar o GPS para os ir buscar, pelas aldeias. De ligar à história, ao facto de as Ordens religiosas, há mil anos, terem ficado com os melhores terrenos de cultura, de pensar que os beneditinos eram lavradores, de pensar no exemplo de Ponte do Lima, de deixar de imitar a Maia, o concelho que alimentou o Porto antes do seu desgraçado PDM e de o Porto se alimentar em França, nos super-mercados congelados.
A Revolução Industrial acabou. Fica, da indústria, tudo o que tem de bom. Acaba a sociedade de consumo, o disparate. É melhor ver isto mais cedo que mais tarde.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A Crítica

   Foi este blog, no “post” "O parque das Rãs", criticado por criticar.
   Criticar não seria “positivo” ou seja, seria uma atitude negativa, prejudicial; neste caso, a Santo Tirso.
   Creio que há três atitudes possíveis perante uma crítica.
   A primeira consiste em negar o que ela afirma, em lutar contra ela, ofendido, afirmando o contrário com veemência. É a atitude das crianças que dizem logo “não fui eu!”, antes de pensar. O caso extremo é o daquele general romano que matou o mensageiro que lhe anunciava a proximidade inesperada do exército dos bárbaros.
   A segunda consiste em ignora-la, em não ouvir ou em fazer de conta que não houve critica. Chamemos-lhe atitude adolescente, a do jovem que se sente forte, senhor da sua verdade, afirmando a sua auto-estima, as suas certezas. Vem-me à lembrança o ainda presidente dos EUA, a quem disseram que não invadisse o Iraque.
   A terceira consiste em ver a crítica pelo que é, fundamentalmente uma informação; que nos diz sobre quem critica, é certo, mas também sobre o assunto em questão, que pode e deve ser integrada. Dissecada, analisada, usada para alargar a nossa visão das coisas. Será a atitude adulta, o mundo espera que seja a de Barack Obama.
   “Expor é escolher”: pergunto-me se haverá emoções negativas, neste blog, que desvalorizem o conteúdo da sua crítica. É certo que a injustiça produz emoção, é humano, existe. Mas isso não quer dizer que não exista a injustiça criticada. Neste caso, a pressão (intimidação?) sobre a liberdade de expressão, dos jornais, dos cidadãos, a manipulação da opinião pública parece-me que "foi "(em vez de "é", sejamos optimistas!) um facto, neste Concelho.

   Se este ponto de vista merecer uma contradição dialética pode aparecer uma “síntese”, que, necessariamente, há de ser mais abrangente, há de se aproximar mais da Verdade. Na verdade o amor à terra (Santo Tirso) pode e deve incluir a crítica. O bairrismo, como “o que está em baixo é como o que está em cima”, é assunto análogo ao nacionalismo e, dentre os nacionalismos, só o "sintético" ou "universalista", no dizer de Fernando Pessoa poderá fazer sentido.
   A atitude adulta, a da procura da verdade, não faz de conta que não ouviu a crítica à inexistência do parque das Rãs e ao projecto de vender esse terreno a privados. Ou a crítica ao sítio escolhido para fazer um Hospital Privado; ou à falta de liberdade de expressão no Concelho. A gestão democrática tem, na opinião pública esclarecida pela imprensa livre, o seu melhor aliado, nunca um inimigo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A paisagem não é só paisagem

A cada momento temos escolhas, somos livres. Nos países democratas somos responsáveis (somos sempre!) pelas escolhas dos nossos governantes. O corpo físico de Portugal, a natureza, tem sido sacrificado ao valor lucro, um erro semelhante ao de não comprar uma máscara para trabalhar com pó. Os interesses imediatos não podem pôr em causa o futuro. Haja bom senso!
Assinei a petição anti-barragem para que se medite sobre que se quer fazer ao Vale do Tâmega e às suas populações. E se se quer inundar as fisgas do Ermelo.

sábado, 11 de outubro de 2008

O parque das Rãs

Convenhamos que um blog é uma coisa pessoal, são cartas de um cidadão para o mundo. Criei este quando vi que se tinha perdido a liberdade de imprensa em Santo Tirso, na esperança de que as pessoas que partilhassem comigo essa preocupação aqui escrevessem.
Mas tal não aconteceu, sou o único "jornalista" que aqui escreve! E, para jornalista, estou muito mal informado sobre o que se passa e só posso falar do que sei. 
Sei que o parque das Rãs não existe porque está à vista de todos um terreno vazio de arvores.
Mas também sei que deveria existir. 
E posso contar uma história que conheço: há mais de 50 anos, quando eu era pequeno, o meu avô era um dos poucos médicos da vila, lembro-me que recebia uns frangos ou não recebia nada, conforme as posses do doente; lembro-me de um industrial que dava uma pescada da Póvoa, de vez em quando, coisa cara na altura e que me deu uma biciclete, embora usada, coisa muito valiosa-- pelo menos para mim, que fiquei grato! A minha avó tinha crescido numa quinta e creio que o meu avô comprou a um irmão a quinta das Rãs para que ela tivesse o gosto, de que me lembro, das arvores que plantava, da vaidade no vinho espadal, coisas assim. Lembro-me dela, já viúva, a ir às Rãs a pé, todos os dias. 

Há uns 30 anos, o PPD, então no poder, na Câmara, lembrou-se de expropriar, por uns centavos por m2, a quinta das Rãs, para construção. Havia, de facto, um déficit de habitação em Portugal, na altura (hoje há um excesso). O Dr. Sá Carneiro, enquanto membro do Governo Provisório, tinha assinado a lei da Reforma Agrária com o Dr. Álvaro Cunhal e ainda estavam na memória as expropriações do Dr. Salazar, do parque de Monsanto, por exemplo, por uns tostões; era "normal", para a época, a expropriação a baixo preço; para mim era triste, claro, a quinta era um gosto, viviam lá lavradores, gente amiga, e não entendia porque havia a vila de crescer para ali, para tão longe do seu centro, em vez de crescer para Norte, para o outro lado do rio; mas eram os mesmos "urbanistas" que permitiram a torre dos Carvalhais ou que viriam a destruir o Hotel Cidnay.... Nesse tempo a Câmara tinha poucos funcionários e ainda não tinha arquitectos, creio. Também tinha pouco dinheiro.
Entretanto o País não estava a evoluir num sentido tão colectivista como os primórdios da União Nacional ou do PPD/PSD e a lei permitia ao proprietário não ser expropriado desde que  pagasse a um arquitecto um plano de urbanização dentro de regras que definia, como a taxa de ocupação, desde que pagasse as infra-estruturas, arruamentos, etc e desde que o plano deixasse um espaço público para a Câmara fazer um parque; a lei estava bem feita, não se pode fazer cidade sem deixar uns espaços verdes, claro. 
E o plano do arquitecto era bom; deixou as melhores arvores que a minha avó tinha plantado, criou um espaço de habitação sossegado, que não era de passagem, nessa altura; a lei obrigava ainda o proprietário a construir num prazo útil para não haver especulação, terrenos vazios à espera de se valorizarem. Foi pena que a lei não obrigasse o construtor que os comprou a usar um arquitecto em vez do Gabinete técnico da Trofa, "não desfazendo"!
Mas ficou um terreno vazio, a especular durante 30 anos: o da Câmara! Em vez de cumprir o que a lei lhe pedia, fazer um parque, a Câmara nada fez. E tem organismos que lhe dariam as arvores e há uma associação em Lisboa que oferece planos de parques infantis de grande qualidade... por sinal já se não usam aquelas placas para amortecer as quedas, no chão, que são caras, houve um estudo que mostrou que a areia, bem mais barata, é muitíssimo melhor para os acidentes ... imagine o leitor que a Câmara tinha cumprido a lei.
Se a Câmara tivesse feito o seu dever, se tivesse criado um parque agradável que as pessoas se tivessem habituado a usar... sabe o leitor o tamanho de um carvalho de 30 anos, bem plantado? E de uma japoneira com bom estrume e com uns ossos e uns ferritos no fundo da cova, bem regada? É, se a Câmara tivesse cumprido a lei estou certo que os moradores das Rãs e as pessoas que usam a central de camionagem não permitiriam que ela vendesse o terreno do parque a privados. Pediriam aos privados que fossem construir para outro lado, seria evidente. 
Donde podemos concluir que o crime compensa! Mas... compensará? Será que, com o dinheiro que ganha, a Câmara vai comprar um terreno ao lado para fazer um parque, para fazer algum estacionamento gratuito, para fazer um jardim de infância? -- Não vai porque não há terreno ao lado para comprar, pode ir para longe fazer parques mas isso que interessa aos moradores dali? Por sinal é bom que se saiba que, antes de fazer a escritura de venda, como a função para que lhe foi dado o terreno se altera, a lei prevê que a Câmara tenha que pedir a opinião aos moradores, mesmo tendo incluído este terreno num novo plano de pormenor para dele se "apropriar"; mas este "jornalista" não mora lá, só informa.

Aparentemente o urbanismo actual é tão mau como o que destruiu o Cidnay. E com a agravante de isto se passar em plena crise dos sub-prime, quando o erro da estratégia seguida nos últimos anos salta aos olhos de todos. 

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Jornal de Santo Thyrso de parabéns!

O que me vem à lembrança é uma frase do Evangelho que diz que há mais alegria no Céu por um pecador que se converte que por centenas de justos que se mantêm fiéis. O Jornal de Santo Thyrso publicou hoje um artigo meu, crítico da Câmara, "A cidade desnorteada", colocando-se, de novo, a caminho da liberdade de imprensa, abdicando do "pecado" da censura interna a artigos assinados.
A recuperação total da saúde ainda demorará, o jornal continua a fazer propaganda ao poder no grosso do seu volume, tem uma entrevista com o Presidente da Câmara nas páginas centrais mas, se chegarmos à décima terceira página, aparece o meu pequeno artigo, que me faz lembrar a primavera marcelista, quando a oposição, de facto, publicou alguma coisa, dando-nos esperança. Bem haja, Jornal de Santo Thyrso, como se dizia nesse tempo!
Mas não esqueçamos os justos, é de elementar justiça! O número do Entre-Margens de hoje é muito interessante, esse é um jornal que goza de saúde, como mostrou ao publicar, há um ano, o meu artigo censurado.
E estou certo que partilha comigo a alegria e o alívio de ver o seu colega centenário a voltar, timidamente, ao rebanho dos independentes!

sábado, 30 de agosto de 2008

Sobre o plano de pormenor das Rãs


O Urbanismo é uma arte fascinante. Há quem use a poética da ciência, para a fazer; há quem use a do "bom gosto" (seja lá o que isso for); a do bom senso; a das vias de comunicação; a do  "engrandecimento e prestigio da Cidade"; a das "previsíveis necessidades futuras"; a do lucro... um sem fim de poéticas para o mesmo fim. 
Creio que qualquer risco deve correr o risco de as englobar todas-- mas não escapamos à nossa subjectividade, ao nosso gosto, em linguagem chã. Porque é de gosto que falamos, quando usamos argumentos racionais! E de crenças, também. Há quem sinta que está a errar e continue porque "é assim que se faz".
O centro da cidade é mais fácil. Restaurar casas no campo, também. É nos subúrbios e nos encontros entre a cidade e o campo que a porca torce o rabo. E no crescimento absurdo das aldeias que já não há. Nestas casas dispersas que nem são urbanas nem rurais nem suburbanas-- e que são o que mais há! -- onde as pessoas parecem gostar de viver, de exprimir, nas chaminés, nas colunas de granito, nas escadas exteriores, a sua alma -- muitas vezes dada de barato a um desenhador barato.
Estragámos a paisagem. Talvez por isso eu a valorize tanto, e à lavoura, ao direito a existir do que resistiu de mundo rural. Defendo-o da cidade, do avanço tentacular e anárquico da cidade. E sei que os citadinos precisam dela, vejo-os a correr ou de biciclete nos sítios mais bonitos, não nos outros.
Vi uma vez uma aldeia muito bonita, para os lados da Trofa, onde tinha aparecido, assustadora, caída do céu do RGEU, uma avenida com cérceas regulares; todas as casas eram vistosas de telhados, volumes, escadas... mas todas obedeciam à poética da cércea regular; todas tinham sido projectadas por um desenhador, todas assustavam os olhos, perdoe-se a sinceridade. Lá no meio da rua estava um terreno vazio, tinha cércea zero, aquele projecto, destoava. 
Era o projecto de uma pessoa que pedira a um arquitecto para realizar o seu sonho (não vendera a alma de barato!). Na Câmara repousava um processo com uma mão travessa de espessura, nunca aprovado, apesar de adulterado pelo autor, à procura da cércea. 

Uma avenida, uma estrutura urbana central, organizadora do espaço, onde vão ter ruas secundárias, onde fica definido um eixo, com uma escultura ou um edifício público de cada lado...  projectada para uma tira entre uma via rápida e uma fábrica que avançou por uma zona verde, com rio em baixo, sem esperança de ter ruas que nela desaguem, com um bairro suburbano num dos extremos do eixo e as traseiras de uma casa de campo, em ruínas, no outro! Porquê, senhores?
Descobri que porque tinha sido imaginada (desenhada?) há mais de 50 anos, quando se fizera o bairro triste donde ela sai da cidade, à conquista do campo. Nesse tempo previa-se que o campo não resistisse (hoje é zona verde com portaria própria de protecção) e que a fábrica falisse, talvez --é a mais próspera da região, por sinal! Mas o que se imagina é a alma do futuro!
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Será que o plano de pormenor das Rãs, que aparece agora aumentado de area de habitação,  e que vai ser (tristemente) aprovado pela assembleia municipal nesta quinta-feira, salvo erro, aparece para viabilizar, "justificar", a escolha de um lote municipal roubado a um plano ao lado, o da quinta das Rãs, para instalar um equipamento "colectivo", um Hospital Privado (com outro nome)? Ou será que é esse equipamento ilegal legalizado que vem "viabilizar" e justificar a construção de cerca de 2000 habitações? E porque hão-de todos os novos tirsenses do futuro (cabem lá todos, a continuar este ritmo de crescimento demográfico) ter que ouvir a fábrica?
Seja como for, tão alto designeo, decerto feito a pensar nas pessoas, justifica que a cidade destrua o edifício da Cooperativa dos Agricultores de Santo Tirso, tão bem situado na fronteira entre a cidade e o campo, justifica que ela passe essa fronteira e esbarre de frente com uma casa que viveu, literalmente, daquele campo junto ao rio, um dos melhores da redondeza e que a fábrica foi roendo, roendo como a indústria às gentes da lavoura e ao seu viver; ao rio que a via rápida encanou num tubo de cimento, ao rio que já ardeu (!), de poluído (pela fábrica que agora segue as normas europeias).
É a cércea, a cércea dos Almadas que aqui chega, 250 anos de viagem! 

Eu sonho com campos como este ou o da Escola Agrícola, junto ao rio, cultivados aos bocadinhos de horta biológica por centenas de citadinos, nas horas vagas --não sou bruxo, é o que está a acontecer na Europa! E sonho com Hospitais públicos de qualidade superior aos privados, totalmente gratuitos, sem taxas moderadoras -- até a América quer ir por aí! -- li as sondagens, imagino o futuro com os pés no chão! 

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Com os pés na terra

Em 1971, há quase 40 anos, tive um professor que nos falou dos artigos científicos que mostravam o crescimento anual do CO2 na atmosfera e do aumento de temperatura que tornaria a vida insustentável. Havia mesmo um cientista convencido de que já era demasiado tarde para salvar a vida no planeta. Naturalmente, como todas as pessoas que tinham tomado consciência da insustentabilidade do abuso dos combustíveis fósseis e da destruição das florestas, falei disso a quem me quis ouvir; só uma opinião pública consciente, em todo o mundo, poderia mudar o rumo catastrófico das coisas.
Lembro-me de me dizerem que não tinha "os pés no chão". Quando uma informação é muito incómoda, quando ela vem pôr em causa as convicções que temos e nas quais baseamos o nosso entendimento do mundo há uma natural tendência para a negação. Em vez de tentar prevenir a catástrofe tratamos de ridicularizar quem a anuncia.  O "desenvolvimento" era identificado com a industrialização e os "ecologistas" tinham que ser identificados com velhos do Restelo que queriam voltar para a Idade Média. Os dados existiam mas não a vontade de os conhecer.
Hoje, no jornal " O Público", vem um gráfico com uma previsão do crescimento demográfico nos países europeus para os próximos 50 anos, divulgado pela Eurostat. Portugal, daqui a 50 anos, terá mais 600 mil almas que agora, crescerá apenas 6% ! Daqui a 50 anos os oficiais 12.800 habitantes da freguesia de Santo Tirso estarão acrescentados de 768 novos! 
Desgraçadamente, a indústria principal deste paraíso ecológico é a da construção civil, é ela que movimenta mais capital e emprega mais pessoas. Poderíamos pensar que ainda tem 600 mil habitantes para quem construir, nos próximos 50 anos, há de se aguentar! Mas é preciso sabermos que, nos últimos 50 anos, ela construíu 4 ou 5 vezes mais que isso! Foi assim que se tornou a indústria dominante no país, aquela que põe governos e tira governos (normalmente não precisa de tirar as Câmaras), assim como nos Estados Unidos da América é a indústria de armamento quem escolhe os presidentes que mais armas comprem, que mais guerras façam! 
Por falar em E.U. da América, a guerra contra o Obama é feita pelos que negam a informação; negam o pico do petróleo, por exemplo, querem ir buscá-lo ao Alasca, área protegida, esquecendo que vão buscar 1 ou 2% do que se consome e que a procura será sempre maior que a oferta. 
Outro número, cuidadosamente esquecido, é o de habitações em Portugal.
Quando, há pouco tempo, os compradores de casas se esgotaram, na Califórnia, e estas caíram para menos de metade do preço que valiam antes, como havia créditos baseados no seu valor acrescentado, não diminuído, esse "subprime" criou uma crise mundial no sistema financeiro; em Espanha e em França o assunto é levado a sério, porque faz doer. Entre nós os empreiteiros não se assustam, limitam-se a negar os dados. Não devem pensar nas pessoas, que quase todas compraram uma casa, e que, quanto mais eles construírem, mais pobres ficarão e terão que continuar a pagar ao banco o que já não vale o que valia quando compraram. 
Deve ser o caso da Herilgar, empresa que desconheço e a quem o plano de pormenor das Rãs atribui quase metade dos 113 mil m2 de habitação previstos. O crescimento da população (os tais 6% em 50 anos) caberá, à vontade, nas casas antigas que vão ficando à venda mas a política que se vende é a do betão, nem que seja para cima da área verde protegida ou da melhor fábrica textil da região, a "Fábrica do Arco", que sofrerá uma pressão urbana para emigrar e levar para o monte os seus operários; se não for para a Polónia. 
Mas eu " não tenho os pés na terra".  Os que têm ainda vão ganhar dinheiro. Dinheiro público que está em mãos cheias de senso comum, vazias de bom senso.
N.B.(26/9/08) Corrigi "40 ou 50 vezes isso" para "4 ou 5 vezes isso"; ter-se-hão construído à volta de 3 milhões de habitações nos últimos anos. De um grande déficit passou-se para um grande excedente. 


quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Estacionamento

Um simpático leitor pediu-me que escrevesse mais neste blog. Este é um lugar onde quem quiser pode escrever, basta enviar-me um e-mail.
Acredito, como os "Pais Fundadores" da democracia americana, no papel central da imprensa livre no melhoramento da sociedade; se cada cidadão expressar os assuntos que lhe surgem e o poder político lhe responder (em vez de o tentar calar!) há lucro.
Aqui vai um pequeno assunto: sei que, quando o nosso mais reputado urbanista, Nuno Portas, projectou (vai para 30 anos!) a circulação pedonal e automóvel da, então, vila de Santo Tirso se preocupou em aumentar a área destinada aos peões, alargou os passeios e fê-los entrar pelos espaços triangulares de alguns encontros de estradas, como a Praça Conde S. Bento, melhorando o usofruto do espaço público; a alternativa, "mais antiquada", seria a de criar rotundas que são espaços inacessíveis, na prática, aos peões. Na altura os automobilistas queixaram-se das vias mais estreitas, da perda de estacionamento; embora o peão tenha sido claramente privilegiado, no desenho, deixaram-se umas baías nos passeios destinadas a estacionamento breve -- alguém que vai comprar qualquer coisa, por exemplo, a salvaguarda do comércio tradicional é uma das preocupações urbanas. Foi assim que ficou uma baía de estacionamento encastrada no largo passeio em frente ao parque onde há uma antiga loja de produtos para consertos domésticos e onde eram os bombeiros amarelos. Estava toda desocupada de carros quando aí estacionei para comprar uns metros de plástico que salvassem uma madeira de ser molhada pela chuva que começara. Mal entrara disseram-me que um polícia estava a anotar a matrícula da minha carrinha e fui-lhe dizer que se tratava de um estacionamento breve. Informou-me que estacionara num espaço privativo dos bombeiros amarelos e, enquanto eu me sentava ao volante imaginando um carro de bombeiros a ser obrigado a parar em segunda fila por minha causa, ele continuou a escrever. Lembrei-me que a sede dos bombeiros tinha saído dali há muito mas, antes que eu falasse já a autoridade me tinha pedido os documentos todos. 
Ficámos ali o tempo suficiente para a chuva apagar qualquer incêndio. Os cofres públicos lucraram, eu perdi mas também o funcionamento do pequeno comércio perde com esta valorização da burocracia: lei é lei, claro que eu deveria ter notado algum sinal que não vi --embora isto não passe de um regulamento, modificável com vantagem para o funcionamento da cidade. Creio que uma das funções da Polícia Municipal é a de velar pelo fluir do tráfego, pedir aos carros estacionados em segunda fila que avancem e não perder tempo com os que estão bem estacionados: ainda caberiam um ou dois carros de bombeiros naquela baía --mas já lá não param, o regulamento está desactualizado... Saberia o urbanista que estava a criar uma fonte de rendimento para os cofres públicos, uma ratoeira para automobilistas incautos? --Pelo contrário, o plano foi feito a pensar nos peões e nos automobilistas, nos cidadãos!

domingo, 29 de junho de 2008

Nova Águia

"E de novo conquistemos a distância" ... Fernando Pessoa pode-se referir à distância entre as civilizações, entre as culturas, entre as pessoas; Portugal pode ter um papel como quando teve para que "o Mar unisse, já não separasse". E os tempos que aí vêm precisam de quem faça pontes, de quem tenha, naturalmente, respeito pelo estrangeiro, nem medo nem desprezo. Vejo a Nova Águia como um belo projecto, uma revista esperada.

domingo, 15 de junho de 2008

A Irlanda não se intimidou. Parabéns!

Cuidado, europeus! Atenção!
Querem fazer um império da União Europeia.
Um império tem um governo central, leis imperiais e ai de quem se não submeter à uniformidade.
A nossa associação de paises tem sido de grande interesse mútuo, rege-se por tratados entre iguais. Cumprir os tratos é elementar decência. É nesse cumprir que se baseia a confiança mútua, o comércio livre de bens, de ideias e de gentes. A nossa União é democrática, respeita as minorias e é admirada no mundo.
Com as novas técnicas de manipulação da opinião pública as maiorias tendem a votar como o poder lhes pede que votem. Porém tal não aconteceu na Irlanda, que tem a memória colectiva de estar sujeita a um império.
Juridicamente, os eleitores irlandeses que votaram “não” (1% da população da União Europeia) salvaram-nos de um tratado que acabaria com a obrigatoriedade de decisões por unanimidade em casos como este, o de fazer um novo tratado europeu.
Em vez de aceitar a derrota, o presidente da Comissão Europeia, o presidente da República Francesa e outros governantes europeus falam de passar por cima do resultado do referendo na Irlanda, ou seja, de passar por cima dos tratados que nos regem, por cima da lei! Pela lei actual a Irlanda não pode ser expulsa da União por ter exercido um direito que tem. Não se podem aplicar, retroactivamente, regras de um projecto de tratado que morreu em 13 deste mês. Tem que se fazer outro, um que não desvirtue a democracia, um que mantenha a União como uma associação de países livres e iguais.
Se os cidadãos europeus, se a opinião pública europeia se não levantar, indignada, contra esta tentativa de golpe de estado dos actuais governantes, a democracia europeia passa à História, história que será reescrita pelo poder para que ninguém se lembre que houve um tempo em que, na Europa, todos os países valiam, juridicamente, o mesmo.
Não é preciso matar César, que o não há (ainda!). Mas é preciso pressionar a Comissão Europeia a demitir-se imediatamente. Desgraçadamente o seu presidente é um português e as ameaças que fez aos irlandeses antes do referendo, a intimidação, são referência suficiente das suas credenciais de democrata; terão contribuído, e muito bem, para a rejeição do tratado de Lisboa.
O Presidente da República Checa ergueu-se em defesa da lei e da Irlanda; também lá a memória histórica do que são os impérios não morreu. Infelizmente não está na “raça” do nosso Presidente uma atitude dessas. Entre nós, que recuperámos a independencia há quase quatrocentos anos, a memória que prevalece é a do medo do poder, a da Inquisição. Até a nível local, como este blog desafia os leitores a contestar.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Desinformação

Dois dias depois do último post, em que sugiro que o poder local está desactualizado, que ainda usa, para fazer censura, a intimidação, quando já estamos no tempo da desinformação, este blog deixou de ser encontrável no Google!
Ora o que se não encontra no Google, não existe, no internet, praticamente.
Tenho que tirar o chapéu à censura local, ela está na era da desinformação! Deve ter sido por hábito antigo que recorreu à velha intimidação. Bom! Talvez isso queira dizer que vai ser possível, de novo, publicar em "O Jornal de Santo Thyrso"? Aumentando ainda mais as páginas de anúncios e pondo o artigo lá perdido no meio?
Este anúncio é a minha pequenina tentativa de não deixar o blog morrer, soterrado em futebol:
Technorati Profile

terça-feira, 20 de maio de 2008

Da importância da censura

A liberdade de expressão é coisa recente e frágil. Nas sociedades antigas a censura estava dentro da cabeça das pessoas, cabeças pelas quais não passaria a ideia de pôr em causa as regras de funcionamento das sociedades em que viviam. Se passasse seriam consideradas loucas e não seriam compreendidas, nem sequer escutadas.

A globalização pôs sociedades dessas em contacto com os “nossos” costumes (bem! sempre temos uma constituição, à míngua de costumes democráticos locais) e a reacção dos que lucravam com a velha ordem foi, por vezes, brutal. Porque a censura é, sempre, uma forma de quem lucra com um sistema se proteger da mudança das regras; é sempre reaccionária, seja a de Stálin, seja a de Santo Tirso. Com a mundialização apareceram coisas tão estranhas como uma escola de jornalismo no Afeganistão democrata, “dominado” pela NATO. Um dos seus alunos está, neste momento, preso e condenado à morte, alegadamente por ter desrespeitado o Corão (o que ele desrespeitou foi uma sociedade que ainda não respeita a dignidade humana).

O fundamentalismo, pretensamente “islâmico”, pode ser visto como uma forma de censura: os cidadãos não se atrevem a pensar de maneira diversa dos que não querem perder o viver a que se habituaram, a submissão das mulheres, o controle da riqueza do país… o terrorismo externo faz parte da forma de aterrorizar internamente desses beneficiários da estrutura tradicional, faz parte da forma de fazer as pessoas terem medo de tudo o que saia dos costumes locais. Usa o Islão, uma religião como qualquer outra, uma religião em que existem pessoas decentes, evidentemente, pessoas que não aterrorizam ninguém.

A intimidação é uma forma muito primitiva de censura (não digo que não seja eficaz!). Na liberal América do Norte pode ver-se o que nos espera e já vai acontecendo entre nós: por exemplo a desinformação. Não sendo possível comprar todos os jornais nem calá-los por outras formas, inunda-se a sociedade com informação que interessa ao poder: água mole em pedra dura… os rapazes do interior dos Estados Unidos foram morrer para o Iraque convencidos que lá havia armas de destruição massiça, porque essa informação se sobrepôs, simplesmente, àquela que mostrou o contrário, que provou a mentira mas que não chegou à maioria das pessoas.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Intimidações

Num país livre, como o nosso, não há censura, ponto final. A intimidação é uma forma, menos clara, dela. O BES e o Expresso convidaram Bob Geldof, aqui há tempos, para fazer umas conferências sobre desenvolvimento sustentável. Sir Bob, personagem controverso, a certa altura, disse que Angola “é gerida por criminosos”; mais disse que “uns poucos têm milhões e milhões têm pouco ou nada”.

O Expresso, um jornal que se quer livre, não reagiu mas o BES demarcou-se imediatamente. Porque sentiu o banco essa necessidade? É legítimo pensar que se sente intimidado pelo governo de Angola, onde a produção de petróleo ultrapassou, há pouco, a da Nigéria, onde há muito dinheiro, muito poder; é legítimo pensar que tema perder a sua posição lá (apesar da filha do presidente angolano ser, aí, sua sócia importante). A tentação de usar o poder para intimidar os outros é natural— natural mas inaceitável.

Por sinal Aguinaldo Jaime, ministro-adjunto do primeiro-ministro angolano, reagiu civilizadamente, apenas considerou “injustas” as críticas (que o jornal oficial atribuíra ao whisky). Serão?

Sabemos que, em Abril, o Governo angolano ordenou o encerramento do escritório dos Direitos Humanos da Nações Unidas em Luanda. Sabemos que quase todo o povo vive quase na miséria…

Mas sabemos também que há um esforço real de democratização, que talvez os governantes já não confundam os dinheiros públicos com os seus, como nos velhos tempos da guerra, das fortunas transferidas para a Europa.

Olhamos paternalistamente para Angola, país africano, mas, nas nossas autarquias, não haverá intimidação, não haverá medo de dizer o que possa incomodar o poder? Este blog, onde quem quer, incluindo o poder, pode publicar tudo, sem censura, recebeu ontem um recado deste, que considerou “injustas” as críticas aqui feitas. Serão?

Há quase dois meses que não aparece um post neste blog mas foi agora, depois de o poder lhe mostrar como poderia ter feito gorar uma sua iniciativa, de interesse concelhio, aliás, que o mensageiro escolhido recebeu e transmitiu o recado. Deve, quem se não demarcar claramente do que aqui for dito, temer represálias? Ficarão os angolanos assim tão atrás, em subtileza, na intimidação censória?

Vou perguntar a quem foi intimidado se me permite que conte a história. Se não permitir confirma a intimidação, confirma que continua a haver censura em Santo Tirso.

E o que se não pode permitir é que haja medo de falar, no Portugal de Abril.

P.S.: Se o poder me quiser intimidar não incomode intermediários, “não é bonito”! Nem “justo”. Só eu devo sofrer as consequências da minha lealdade à Declaração Universal dos Direitos Humanos e, no caso deste blog, à causa da liberdade de imprensa.

P.S. 2: Não sou do PSD :-)

domingo, 23 de março de 2008

A Democracia constrói-se, e demora!

Deixo aqui um discurso histórico, muito actual, e um que faria refletir os democratas que se deixam cair na censura, se o ouvissem, o Jornal de Santo Thirso e o poder político que ele teme.
O assunto é o de melhorar a democracia e esse é o assunto essencial deste blog. Se tememos que o outro se exprima livremente como vamos lidar com os imigrantes? O futuro já está aí e só com respeito pelos direitos humanos poderá ser de paz.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Parabéns

O jornal "maiahoje" faz 8 anos. Tem uma edição online http://www.maiahoje.pt/ e é um belo exemplo, dado por um Concelho vizinho. Parabéns!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Uma luz ao fundo do Túnel

A Entidade Reguladora da Comunicação "recomendou" ao Jornal de Santo Thyrso o cumprimento rigoroso do previsto no número 7 do artigo 26 da Lei de Imprensa, em particular quanto à obrigatoriedade de informação e fundamentação da recusa de publicação de um texto de resposta e do respectivo prazo para sua concretização. É a Recomendação 1/2008 de 9 de Janeiro. O assunto é o direito de resposta a artigos, de membros do P.S., invocado por membros do P.S.D. . Não me sei pronunciar sobre artigos que não li mas, embora a recomendação seja muito tímida, trata-se de uma feliz viragem no panorama da liberdade de imprensa. Não me parece que um dos ditos partidos valha mais que o outro mas, do diferendo, a Democracia ganhou, embora sejam precisas "recomendações" mais assertivas!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Respeito pelo outro

Sempre houve tiranos. Gente que toma decisões que a todos respeitam sem os consultar e que responde às críticas com violência, gente que cria sociedades amedrontadas. Até podem contar os votos dos seus apoiantes e dizerem-se democratas, porque os que têm medo são em maior número. Chegou a nós o desprezo que os gregos sentiam por essa gente. A pedra de toque para saber da liberdade de uma sociedade é a liberdade de expressão. Porque houve tiranos amados pelo seu povo e houve-os que fizeram sociedades “melhores” que as que encontraram.
Talvez não seja possível criticar racionalmente as sociedades não democratas. A Liberdade é um valor que é defendido por quem a ama. Por quem se escandaliza com a falta de respeito que é mandar calar alguém. É por isso que acho tão importante que os não democratas tenham voz. Tirar o direito de se exprimir é tirar o direito de existir fora dos parâmetros da maioria, é negar a realidade e defender, pela força, o sonho em que se vive. É uma alienação. Há muito quem goste de viver sem conhecer a realidade, chegam a considerar loucos os que lhes mostram que “o rei vai nu!”. E esta loucura de negar o pensamento estranho existe à esquerda e à direita, é de todos os tempos.
Considero Chávez e Juan Carlos democratas mas houve um momento emocional em que o primeiro falou durante o tempo de outro, impedindo-o de falar, e o segundo mandou calar o primeiro, atitude que competiria à presidente da mesa. Momentos de loucura, em que “o outro” é visto como um louco, um estranho, em que lhe é negada a possibilidade de se exprimir, de ser, de existir! Momentos em que vemos as nossas convicções como “A Verdade” e o outro como um imbecil que a não vê. Coisa humana, mas coisa que deve estar no nosso espírito como acontecimento a evitar. Porque não se pode coexistir sem respeito mútuo. Sem liberdade de expressão.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Liberdade de escrever

A liberdade de expressão é um valor para todos os democratas. Não é um assunto para lutas partidárias. A não ser que falemos de partidos não democratas. Mas esses não são propriamente partidos. A Acção Nacional Popular, o “partido” que Marcelo Caetano “criou” em substituição da União Nacional de Salazar nada tinha de democrático: quando foi às urnas, com um recenseamento em que os democratas dificilmente figuravam, impediu-os de fazer campanha normalmente. Só ouvíamos as “Conversas em Família”, na televisão.
Ou seja, o assunto deste blog é pacífico, é um assunto em que todos estamos de acordo. Qualquer forma de pressão do poder sobre a liberdade de expressão, repito, qualquer, é uma violação da nossa Lei Fundamental, da Constituição da Republica.
Nós, democratas, respeitamos a liberdade de expressão de quem a não respeita. Isto para dizer que este blog está aberto aos artigos dos não-democratas, salazaristas, monárquicos absolutistas, nazis, sei lá, os únicos que se poderão opor àquilo que ele defende.
E se os jornais que merecem ser lidos são os que têm polémicas, os blogs também! Venham os artigos dos adversários, até se publicam defesas do decreto de Alhambra!
4-1-2008 Recebi esta correcção de um monárquico que pesa as palavras:
"Lapsos lamentáveis foram detectados:a) onde se lê "salazaristas", deve ler-se "salazaristas, fascistas, nacional-socialistas, marxistas, leninistas, comunistas, maoistas e quase toda a enorme quantidade de movimentos republicanos de cariz revolucionário".b) onde se lê "monárquicos", deve ler-se "simpatizantes de regimes que apresentam como modelos a vaidade e a ferocidade do denominado despotismo esclarecido (em Portugal, mais facilmente identificável como Pombalino)"."