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Esta realidade indiana, criada a partir do respeito pela cultura das aldeias, pela sabedoria, mostra que um outro mundo é possível.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Bom ano!
Hoje, às 5:30 da manhã, começou o novo ano solar, foi o Solstício de Inverno.
Os dias começaram a crescer de novo e, com eles, a Vida, a Esperança de concretizar os sonhos.
Parece-me que faz sentido tentar escrevê-los, quiçá meio caminho para que eles sejam ;-)
Os portugueses a dar a sua contribuição ao Mundo, aquela que lhes é própria: o desenrrascanço diante dos problemas que os transcendem, a bondade invisível para com os que se atrapalham, a coragem e a Paz.
Este ano é crucial, cada vez mais isso se vê. A nossa contribuição pode ser que o seja, também.
A revolução em curso, no Mundo, que se agudizará no fim de 2012, pede-nos tudo. Dos hábitos e confortos às crenças, dogmas e sonhos.
Costumámos criá-los a partir da tristeza, do fado, e creio que teremos que os criar a partir da alegria, da confiança na vida e em nós mesmos, seus agentes.
Gostamos (gostemos!) da vida, que é feita de mudança, ajudemos aqueles que a receiam, aqueles que gostariam que a mudança se não passasse. Acalmemos os seus ímpetos revolucionários, eles querem a suprema transformação, a morte, que também faz parte da vida.
Ajudar aqueles que receiam a mudança parece tarefa decente, pacífica. E é a paz o que imagino seja a nossa potencial contribuição, dos portugueses.
Decerto que os marinheiros de quinhentos não perdiam a cabeça no meio das tempestades, ou da falta de vento, de água potável ou de comida, no oceano imenso. Se a perdessem não encontrariam as ilhas encantadas, com seus frutos exóticos, seus aprazíveis regatos de água pura…
Poderemos, de novo, indicar o caminho, apenas porque o temos que fazer, enquanto caminhamos. Poderão, de novo, as nossas histórias de encantar chegar aos europeus atentos, que nos seguirão os passos.
Passos que imagino para a paz, para a fraternidade sã, para o respeito pelo outro, pela sua aparente diferença, irmão, na espécie em risco de extinção e no seu espírito.
É aqui, no respeito pelo outro, na igualdade essencial, no direito e dever da dignidade, que projecto a chave da imensa transformação que o tempo nos pede.
Deixem-me ilustrar com outro tempo, o da minha juventude, pelo 25 de Abril.
Havia dois blocos, o Ocidente dito capitalista e o Oriente dito comunista. A fronteira passava no meio da Alemanha e era real. Mas os papéis estavam invertidos: o espiritualista Oriente (Buda, Jesus, Lao Tse nasceram no Oriente) dizia-se materialista e ateu e o materialista Ocidente (onde a Ciência e Marx profetisaram), dizia-se espiritualista, cristão. As palavras materialista e idealista eram um insulto, respectivamente no Ocidente e no Oriente.
Por cá, verberando-nos uns aos outros, fizémos uma revolução idealista que nos trouxe a materialista sociedade de consumo – estamos, hoje, incomensuravelmente mais bem providos de bens materiais que antes dela. E fizémo-la em paz.
Mas ainda não fizémos a necessária síntese, prisioneiros da Geografia –somos o Ocidente!
A síntese, que vamos fazendo aos poucos, das aldeias aos laboratórios científicos, é a da ciência , dos milagres da técnica, com o sentido da vida, com o que, aparentemente, nos transcende.
A forma pacífica como formos tirando do poder, este ano, os “lacaios do capitalismo” e os “escravos da burocracia” (em nós mesmos, sobretudo!) será vista pela desnorteada Europa. Poderemos ser o porto onde chega e donde parte Luz: Portugal.
Este senhor, ocupado em viver, que é criar e divertir-se criando, está cheio de razão apesar de o presente movimento global que trará o fim do capitalismo lhe ser desconhecido. Continuará vivendo, criando, descobrindo gatos pretos onde os não há quando a estrutura social for destruída e reconstruída... quiçá o nosso papel, o dos portugueses, consiste em criar a nova era sem saber que a estamos criando, apenas sendo-a? "Primum vivere deinde philosophari", dizia Aristóteles, em grego!
Mas não faz mal estar conscientes, reflectir!
Mas não faz mal estar conscientes, reflectir!
domingo, 18 de dezembro de 2011
O mais velho
Eduardo Lourenço recebeu o prémio Pessoa e isso deve ter sabido bem a ambos.
Tive um professor de Antropologia que dizia que os portugueses não passam de uma tribo; e é bem sabido como estamos, geograficamente, de costas voltadas para a Europa e com um pé em África, primeiro passo para a nossa Índia, que fica “a oriente do Oriente”, mais precisamente aqui. Temos saudades cá dentro.
Nas tribos africanas parece que há um enorme respeito pelo “mais velho”, papel que este jovem de espírito desempenha, desde há muitos anos, na nossa.
Inundados de analistas que, diariamente, nos explicam, na Televisão, como não temos outro caminho senão o da ”Troika” e como ele nos levará, seguramente, à miséria -- quando este homem aparece, respiramos.
Ele pensa, em vez de analisar. Oferece-nos o prazer angustiado do seu pensamento livre, de emigrante falsamente identificado com a Europa – os emigrantes são os mais portugueses dos portugueses.
Crítico de Pessoa, fiel ao Realismo que rejeitou em nome da Liberdade, é o mais pessoano dos nossos escritores, até na forma. E era Pessoa quem dizia que “toda a forma tem uma alma”.
Quando nos perdemos nos seus labirintos racionais, encontramo-nos, tribo irracional e concreta que somos.
Deixo aqui outra homenagem, ao mais velho do Brasil, vem a propósito ;-)
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
sábado, 3 de dezembro de 2011
O Presente Movimento Global
Está em curso uma Revolução Global, são tempos de mudança.
Entre nós começou com uma música, creio que inspirada em Bach, uma letra com a qual tomávamos consciência de que estamos a ser parvos: afinal, em democracia, o poder pertence-nos -- só por parvoíce aceitámos que 1% ditassem as regras. E começou com uma manifestação, o 12 de Março, simultâneamente em várias cidades portuguesas, que surpreendeu o país pelo seu tamanho, pelo seu espírito pacífico e por ter gente de todas as idades, rendimentos, partidos -- até por ter muita gente que nunca se tinha manifestado!
Dois meses depois os espanhóis imitaram-nos, os "indignados", que tomaram consciência de que os eleitos nos não representam.
Em 17 de Setembro os novaiorquinos ocuparam Wall Street, movimento que alastrou a todas as cidades americanas; foram eles quem lembrou que somos os 99%. E desde aí, ou melhor, desde que as pessoas acamparam na Porta do Sol (que belo símbolo!), em Madrid, há gente que se manifesta de dia e de noite em muitíssimas cidades do mundo.
Hoje, em Toronto, no Canadá, celebrando o dia global de acção, a campanha mundial contra as alterações climáticas, que faz seis anos, um nativo americano (um chefe índio) abençoou este movimento global, que corresponde a uma transformação estrutural do mundo, análoga à que se passou há 250 anos e ficou conhecida por Revolução Industrial.
Gritou-se: Climate! Justice! (clima! justiça!) e We are unstoppable, another world is possible! (Somos imparáveis, um outro mundo é possível!).
O chefe índio agradeceu à Mãe Terra, graças à qual existimos e a beleza de tudo.
A Indústria, o sistema monetário e financeiro que ela trouxe, não são um mal em si: foram um tempo que chegou ao fim (haverá sempre indústria, claro!, mas para nos servir). A sociedade de consumo, que trouxe a exploração desenfreada dos recursos naturais para criar lixo, alterações climáticas apavorantes, empobrecimento dos mais pobres... não é sustentável -- é o final de uma era.
Somos os 99%, quer dizer, estas regras do mercado global só interessam a 1%.
Daqui a uma dúzia de anos viveremos com novas regras. "Somos todos um", dizia o chefe índio, lembrando que as ideias holísticas do chamado movimento new age, a valorização da cooperação e o abandono da sobre-valorização da competição, fazem parte deste movimento global. Assim como o pacifismo, à maneira dos índios da Índia. A boa globalização!
Cedo, no próximo ano, uma nova manifestação global abalará os alicerces do sistema em que vivemos. São leis arcaicas da natureza, nada se perde, tudo se transforma, como dizia Lavoisier a propósito da química. Em biologia tudo nasce, cresce, definha e morre. As sociedades humanas são naturais, obedecem a leis eternas.
"Um outro mundo é possível", está em gestação.
http://otirsense.blogspot.com/2011/12/o-presente-movimento-global.html
Entre nós começou com uma música, creio que inspirada em Bach, uma letra com a qual tomávamos consciência de que estamos a ser parvos: afinal, em democracia, o poder pertence-nos -- só por parvoíce aceitámos que 1% ditassem as regras. E começou com uma manifestação, o 12 de Março, simultâneamente em várias cidades portuguesas, que surpreendeu o país pelo seu tamanho, pelo seu espírito pacífico e por ter gente de todas as idades, rendimentos, partidos -- até por ter muita gente que nunca se tinha manifestado!
Dois meses depois os espanhóis imitaram-nos, os "indignados", que tomaram consciência de que os eleitos nos não representam.
Em 17 de Setembro os novaiorquinos ocuparam Wall Street, movimento que alastrou a todas as cidades americanas; foram eles quem lembrou que somos os 99%. E desde aí, ou melhor, desde que as pessoas acamparam na Porta do Sol (que belo símbolo!), em Madrid, há gente que se manifesta de dia e de noite em muitíssimas cidades do mundo.
Hoje, em Toronto, no Canadá, celebrando o dia global de acção, a campanha mundial contra as alterações climáticas, que faz seis anos, um nativo americano (um chefe índio) abençoou este movimento global, que corresponde a uma transformação estrutural do mundo, análoga à que se passou há 250 anos e ficou conhecida por Revolução Industrial.
Gritou-se: Climate! Justice! (clima! justiça!) e We are unstoppable, another world is possible! (Somos imparáveis, um outro mundo é possível!).
O chefe índio agradeceu à Mãe Terra, graças à qual existimos e a beleza de tudo.
A Indústria, o sistema monetário e financeiro que ela trouxe, não são um mal em si: foram um tempo que chegou ao fim (haverá sempre indústria, claro!, mas para nos servir). A sociedade de consumo, que trouxe a exploração desenfreada dos recursos naturais para criar lixo, alterações climáticas apavorantes, empobrecimento dos mais pobres... não é sustentável -- é o final de uma era.
Somos os 99%, quer dizer, estas regras do mercado global só interessam a 1%.
Daqui a uma dúzia de anos viveremos com novas regras. "Somos todos um", dizia o chefe índio, lembrando que as ideias holísticas do chamado movimento new age, a valorização da cooperação e o abandono da sobre-valorização da competição, fazem parte deste movimento global. Assim como o pacifismo, à maneira dos índios da Índia. A boa globalização!
Cedo, no próximo ano, uma nova manifestação global abalará os alicerces do sistema em que vivemos. São leis arcaicas da natureza, nada se perde, tudo se transforma, como dizia Lavoisier a propósito da química. Em biologia tudo nasce, cresce, definha e morre. As sociedades humanas são naturais, obedecem a leis eternas.
"Um outro mundo é possível", está em gestação.
http://otirsense.blogspot.com/2011/12/o-presente-movimento-global.html
O Projecto das 100 000 Árvores
Com a devida vénia, publica-se este anúncio,
proveniente do blog "Ambiente Santo Tirso":
"Caros amigos
Vimos convidar-vos a participar nas primeiras acções no âmbito do “FUTURO – projecto das 100.000 árvores”:
21 de Janeiro 2012 | Santo Tirso | Plantação | 9:00 -13:00
Durante esta manhã vamos plantar 800 pilriteiros, aveleiras, castanheiros e carvalhos na área do Castro do Monte Padrão (Monte Córdova).
POR FAVOR CONFIRME A SUA PRESENÇA “AQUI”.Em caso de dúvida “contacte-nos”.
No Monte Padrão a acção será acompanhada pela “Câmara Municipal de Santo Tirso”.
Estas acções estão integradas no “FUTURO – projecto das 100.000 árvores" na Área Metropolitana do Porto promovido pelo "cre.porto", no qual se prevê reflorestar até 2015 cerca de 100 hectares de áreas ardidas, livres ou que necessitam de reconversão, com cerca de 100.000 árvores de espécies nativas da região, o que permitirá anular 20.280 toneladas de dióxido de carbono da atmosfera ao longo dos próximos 40 anos. Para além de enriquecer a biodiversidade e melhorar a qualidade do ar, este projecto irá contribuir para uma melhor qualidade de vida.
Contamos consigo!"
“Embaixadores da Floresta”
Fonte: “Cre Porto“
Durante esta manhã vamos plantar 800 pilriteiros, aveleiras, castanheiros e carvalhos na área do Castro do Monte Padrão (Monte Córdova).
POR FAVOR CONFIRME A SUA PRESENÇA “AQUI”.Em caso de dúvida “contacte-nos”.
No Monte Padrão a acção será acompanhada pela “Câmara Municipal de Santo Tirso”.
Estas acções estão integradas no “FUTURO – projecto das 100.000 árvores" na Área Metropolitana do Porto promovido pelo "cre.porto", no qual se prevê reflorestar até 2015 cerca de 100 hectares de áreas ardidas, livres ou que necessitam de reconversão, com cerca de 100.000 árvores de espécies nativas da região, o que permitirá anular 20.280 toneladas de dióxido de carbono da atmosfera ao longo dos próximos 40 anos. Para além de enriquecer a biodiversidade e melhorar a qualidade do ar, este projecto irá contribuir para uma melhor qualidade de vida.
Contamos consigo!"
“Embaixadores da Floresta”
Fonte: “Cre Porto“
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
125%
Os municípios podem-se endividar, por lei, até 125% do montante das receitas do ano anterior. O que fazem, claro: é legal! (com honrosas excepções, “o respeitinho é muito bonito!”)
Se um campónio vier dizer que o melhor é não ter dívidas e se, com a sua aritmética da quarta classe, calcular quanto é que o município (os munícipes!) terá que pagar, em juros anuais, ao banco que lhe emprestou o dinheiro, os provincianos que nos governam chamam-lhe provinciano, criatura retrógrada que nada percebe de economia contemporânea. Quer dizer: chamavam, é possível que tenham perdido, recentemente, alguma da sua sobranceria.
A nossa cultura popular é um modelo para entendermos a realidade e o facto de a nossa industrialização ser muito recente – e incipiente! – aconselha-nos a não a abandonarmos de ânimo leve. Eram bem conhecidos – e muito mal vistos – uns sujeitos que emprestavam dinheiro aos lavradores e acabavam por lhes ficar com a quinta, porque eles não conseguiam pagar os juros; ouvi essas histórias na infância, assim como me lembro de ouvir dizer que, nos anos vinte, na Alemanha, as pessoas iam á mercearia com uma mala de notas, as coisas custavam centenas de milhares de marcos. Essa história está na memoria colectiva dos alemães, faz parte da sua cultura, da sua experiência como povo. E é essa história que os faz temer o fabrico de euros pelo Banco Central Europeu, a única solução para a nossa moeda, que aguentaria alguma desvalorização.
Não interessa culpar os responsáveis pelo buraco em que nos metemos: na verdade não soubémos resistir aos slogans e aos cartazes, às bonitas palavras e ao resto do marketing: somos os responsáveis últimos, em democracia!
Se quisermos ser independents teremos que conseguir pagar as centenas de milhares de milhões de euros que devemos – o que é manifestamente impossível!
Um blog é um espaço de liberdade de expressão, vou dizer onde a lógica me leva: o Banco de Portugal poderia fabricar escudos. O novo escudo custaria 50 centimos de euro, por exemplo, e todos os bancos, empresas, pessoas, veriam, por lei, os seus euros confiscados e substituídos por Novos Escudos.
O Banco de Portugal, com esses euros, trataria de pagar a dívida, de a comprar. Teríamos que estar preparados para uma economia interna de subsistência mas continuaríamos senhores das águas, da REN, da CGD, da PT, etc e a agricultura desenvolver-se-ia imenso. Deixaríamos de ter que pagar juros. Passados uns anos proporíamos a adesão ao euro, de novo, se isso nos conviesse. Seríamos um país sem dívidas, "apto".
Esta loucura seria menos louca que o abismo para que caminhamos: vamos vender tudo, enquanto a nossa economia regride e trabalhamos para pagar juros. Daqui a uns anos ninguém nos quererá no euro, se ele ainda existir!
E acontecer-nos-á refazer o escudo – só que em piores circunstâncias e sem nos termos libertado da dívida, que será imensa.
A atitude actual dos bem pensantes é bem mais louca que a proposta acima. Consiste em esperar que os alemães se decidam a fazer do euro uma moeda normal, desvalorizável. Nada indica que se decidam a tempo, pelo contrario!
Tivémos a audácia de votar neles, oxalá não sejamos suficientemente corajosos para persistir. Ao que parece a inteligência consiste em aprender com os erros: o orçamento para 2012 tem cerca de dez mil milhões de euros, nas “receitas”, provenientes de empréstimos. Que é que aprendemos?
Se um campónio vier dizer que o melhor é não ter dívidas e se, com a sua aritmética da quarta classe, calcular quanto é que o município (os munícipes!) terá que pagar, em juros anuais, ao banco que lhe emprestou o dinheiro, os provincianos que nos governam chamam-lhe provinciano, criatura retrógrada que nada percebe de economia contemporânea. Quer dizer: chamavam, é possível que tenham perdido, recentemente, alguma da sua sobranceria.
A nossa cultura popular é um modelo para entendermos a realidade e o facto de a nossa industrialização ser muito recente – e incipiente! – aconselha-nos a não a abandonarmos de ânimo leve. Eram bem conhecidos – e muito mal vistos – uns sujeitos que emprestavam dinheiro aos lavradores e acabavam por lhes ficar com a quinta, porque eles não conseguiam pagar os juros; ouvi essas histórias na infância, assim como me lembro de ouvir dizer que, nos anos vinte, na Alemanha, as pessoas iam á mercearia com uma mala de notas, as coisas custavam centenas de milhares de marcos. Essa história está na memoria colectiva dos alemães, faz parte da sua cultura, da sua experiência como povo. E é essa história que os faz temer o fabrico de euros pelo Banco Central Europeu, a única solução para a nossa moeda, que aguentaria alguma desvalorização.
Não interessa culpar os responsáveis pelo buraco em que nos metemos: na verdade não soubémos resistir aos slogans e aos cartazes, às bonitas palavras e ao resto do marketing: somos os responsáveis últimos, em democracia!
Se quisermos ser independents teremos que conseguir pagar as centenas de milhares de milhões de euros que devemos – o que é manifestamente impossível!
Um blog é um espaço de liberdade de expressão, vou dizer onde a lógica me leva: o Banco de Portugal poderia fabricar escudos. O novo escudo custaria 50 centimos de euro, por exemplo, e todos os bancos, empresas, pessoas, veriam, por lei, os seus euros confiscados e substituídos por Novos Escudos.
O Banco de Portugal, com esses euros, trataria de pagar a dívida, de a comprar. Teríamos que estar preparados para uma economia interna de subsistência mas continuaríamos senhores das águas, da REN, da CGD, da PT, etc e a agricultura desenvolver-se-ia imenso. Deixaríamos de ter que pagar juros. Passados uns anos proporíamos a adesão ao euro, de novo, se isso nos conviesse. Seríamos um país sem dívidas, "apto".
Esta loucura seria menos louca que o abismo para que caminhamos: vamos vender tudo, enquanto a nossa economia regride e trabalhamos para pagar juros. Daqui a uns anos ninguém nos quererá no euro, se ele ainda existir!
E acontecer-nos-á refazer o escudo – só que em piores circunstâncias e sem nos termos libertado da dívida, que será imensa.
A atitude actual dos bem pensantes é bem mais louca que a proposta acima. Consiste em esperar que os alemães se decidam a fazer do euro uma moeda normal, desvalorizável. Nada indica que se decidam a tempo, pelo contrario!
Tivémos a audácia de votar neles, oxalá não sejamos suficientemente corajosos para persistir. Ao que parece a inteligência consiste em aprender com os erros: o orçamento para 2012 tem cerca de dez mil milhões de euros, nas “receitas”, provenientes de empréstimos. Que é que aprendemos?sexta-feira, 18 de novembro de 2011
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
"Pranto pelo dia de hoje"
Este poema, escrito nos anos 60 do século passado, durante a tirania de Salazar, faz, de novo, sentido:
Lendo o jornal de hoje, "O Público", insuspeito de ímpetos revolucionários, vemos, na página de Economia (16/17) um artigo (Governo opta por regime que favorece grupos económicos na tributação de dividendos) com um destaque, "Os serviços do IRC queriam agravar a tributação dos grupos mas a sua informação ficou parada dois meses, sem despacho", artigo em que se vê a complexidade da forma como os privilégios se conseguem manter -- e os milhões que os privilegiados gastam em pareceres jurídicos.
Pranto pelo dia de hoje
Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas.
Nunca a economia teve um lugar tão central na res publica. Em todos os países europeus o poder político se submete ao económico, o qual o manipula investindo em marketing e em "outras maneiras que sabemos / Tão sábias tão subtis e tão peritas / Que não podem sequer ser bem descritas".
Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas.
Ou os nossos representantes eleitos são competentes para defender o interesse público ou não são. Tudo aponta para uma terceira hipótese: são competentes para defender os interesses privados!
Na página 5 ficámos a saber que a REN (a empresa Redes Energéticas Nacionais) que é dona das linhas de alta tensão, que tanto trabalho e dinheiro custaram ao erário público durante tantos anos e que são uma infra-estrutura cuja falta mexe com a segurança nacional, já só pertence em 51% ao Estado; e que esses 51% vão ser privatizados, prevendo-se que por 700 milhões de euros.
700 milhões de euros! Vale a pena o Estado perder assim a soberania? Vai recuperar com isso os milhares de milhões de euros perdidos a indemnizar os investidores do BPN ou aqueles perdidos nos túneis da Madeira? Que é que isso ajuda a pagar os seis mil milhões que estão no orçamento de 2012 para pagar juros da dívida?
A aflição financeira do Estado é favorável a vender ao público estas vendas absurdas, que noutro tempo, o povo não permitiria.
Perdoe-me o leitor mas são coisas
Que não podem sequer ser bem descritas !
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
O Estado de desgraça
O velho ditador mantinha uma relação cerimoniosa com a oligarquia financeira que representava mas representava-se a si mesmo, em última análise: "sei o que quero e para onde vou", disse.
Os actuais representantes da oligarquia financeira, como estamos em "democracia", representam, em última análise, aqueles que os escolheram (não, não somos nós, os eleitores). Esse grupo de "escolhedores" ganhou a sua posição por conseguir votos ou financiamentos para o seu partido; são normalmente pessoas "simpáticas", inteligentes, bem falantes e bem apessoadas e com outras qualidades que os fizeram ir subindo nos quadros do seu partido. Por vezes são capazes de ter a sua visão estratégica para o país; aquilo de que nunca podem ser capazes -- se o fossem não teriam chegado ou seriam afastados -- é de pôr as suas ideias à frente dos interesses do seu partido, ou seja, à frente dos interesses do seu grupo de "escolhedores": sabem o que querem e para onde vão.Enquanto o ditador queria, "apenas", satisfazer o seu vício de poder, impor a sua ideologia à custa da nossa dignidade e liberdade, esta oligarquia quer, "apenas" (muitos!) cargos muito bem remunerados, com direito a viajar extensível à família, com despesas de representação previstas, automóveis, etc -- e com grandes reformas precoces, onde, por vezes, se inclui o conforto do uso-fruto de "agradecimentos", recebidos por debaixo da mesa; e é para esses cargos que vai.
Os seus eleitos -- que não são nossos! -- esforçam-se como podem para os colocar em empresas públicas, nas Câmaras, nos Hospitais, nas parcerias público-privadas e mesmo nas empresas em que o Estado é accionista, como a Caixa Geral dos Depósitos, a PT ou a EDP: em tudo em que o Estado tenha influência. É claro que nesse esforço se inclui o esforço por arranjar financiamento para o Estado português, de quem dependem, tanto que os credores começaram a fazer-se caros e chegámos a uma situação em que vale tudo para os acalmar, para que o Estado possa continuar a receber emprestados os biliões anuais a que se acostumou.
É neste quadro que se pode entender este recente ataque à autonomia das Universidades. O governo não está apenas a ajudar as universidades privadas, como tem feito com os colégios ou com as clínicas. Está a criar cargos apetecíveis para dar aos que o escolheram, aos "escolhedores".
As Universidades públicas estão num período criativo, produzem conhecimento e dão valiosa ajuda à produtividade de empresas inovadoras, crescem apesar de a contribuição do Estado ir diminuindo... -- Para que precisam elas de alguns burocratas (caros!) para as gerir, os quais, ao acabarem com a autonomia da gestão actual, seguramente acabarão com o que de interessante se tem passado? Trata-se de um disparate económico, se o país (e o seu futuro) for o objectivo.
Mas não é. É neste quadro que se pode entender este recente ataque à autonomia das Universidades. O governo não está apenas a ajudar as universidades privadas, como tem feito com os colégios ou com as clínicas. Está a criar cargos apetecíveis para dar aos que o escolheram, aos "escolhedores".
As Universidades públicas estão num período criativo, produzem conhecimento e dão valiosa ajuda à produtividade de empresas inovadoras, crescem apesar de a contribuição do Estado ir diminuindo... -- Para que precisam elas de alguns burocratas (caros!) para as gerir, os quais, ao acabarem com a autonomia da gestão actual, seguramente acabarão com o que de interessante se tem passado? Trata-se de um disparate económico, se o país (e o seu futuro) for o objectivo.
O objectivo neo-liberal que o partido no governo apregoa aplaudiria a criação de riqueza que as Universidades fazem. Condenaria a interferência do Estado nas mesmas.
Mas os nossos governantes, além de representarem a oligarquia financeira (nacional e internacional) e o seu gosto pelo neo-liberalismo, representam o grupo dos seus "escolhedores": o objectivo, consistentemente perseguido pelos governantes que temos tido nos últimos 20 anos, é o de criar lugares apetecíveis para os seus políticos. O neo-liberalismo assumido não passa da sua última aposta de marketing -- tinham que fingir que havia mudança: a vontade de mudança era o que as sondagens indicavam. Mesmo tratando-se de apresentar como nova uma doutrina que caiu em descrédito, com estrondo, em 2008, com a bolsa e com George Bush. E que não era mudança, no fundo, porque, encapotadamente, já era a directriz do governo anterior: o neo-liberalismo, embora com cargos e segurança social de luxo para os que representam, no Estado, o verdadeiro poder, que é a oligarquia financeira, nacional e internacional.
Assim como a Universidade se adaptou ao tempo de Salazar, assim terá que convidar -- mesmo para ensinar! -- pessoas gratas ao regime, pessoas que trabalharam nas juventudes partidárias e singraram na carreira. Universidades medíocres num país de gente pobre: já vi isso, há quem se lembre!
A custo, intoxicado de desinformação, mais ano menos ano o povo reiniciará a Democracia, nas universidades, nas autarquias -- em todo o país. Uma Democracia imune à doença de que a actual padece: a de ter tanto de democracia como tinha a "democracia orgânica", nome que Salazar, depois da guerra, deu ao Salazarismo. Será uma democracia real!
Fá-la-emos a tempo de sermos um exemplo pacífico para os outros Estados, a braços, como nós, com democracias doentes, com o problema de ver os seus eleitos a defender, encarniçadamente, a oligarquia financeira que representam, em vez de representar os cidadãos?
É minha esperança que sim :-)
![]() |
| Em Jaraguá do Sul, irmãos na desgraça! |
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Encontro da floresta
A protecção das áreas verdes do Concelho, especialmente das suas áreas de ecologia protegida, foi, durante muito tempo, desvalorizada pelo poder autárquico. O território bem ordenado tem floresta com biodiversidade; agricultura tendencialmente "biológica", ou seja, preocupada em não contaminar as águas com produtos tóxicos; áreas urbanas, protegidas do barulho das estradas e em encostas a Sul, nunca nos campos destinados à agricultura e nunca ao longo das estradas, convidando os acidentes; tem áreas industriais, não permite a indústria isolada no monte porque, ao valorizar o território, se preocupou em oferecer áreas de construção industrial a um preço que evitasse essa dispersão pela floresta, com os prejuízos que traz à fauna, à flora e, muito simplesmente, à paisagem.
Ainda se podem ver depósitos de entulho da construção civil em áreas ecologicamente protegidas. Isso evita-se criando vários locais para o efeito, gratuitos e bem divulgados. Sei que há algum progresso mas também sei que a construção é o que dá lucro à administração autárquica, é aquilo a que ela dá mais valor. A consciência do valor da floresta e da biodiversidade está, porém, claramente, a aumentar entre os "eleitores" (a qualidade mais valiosa dos cidadãos).
Conheça ainda o projecto "Embaixadores da Floresta", que se propõe plantar árvores autóctones, informação que agradeço ao blog "Ambiente Santo Tirso", o qual merece ser visitado.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Limpar Portugal 2012
Informe-se e inscreva-se aqui. No dia 24 de Março vamos limpar o Concelho de Santo Tirso!
Entretanto, entre 24 de Março e 25 de Setembro, haverá limpezas dessas pelo mundo fora:
é o world clean up, passámos da escala nacional (o primeiro let's do it foi na Estónia, em 3 de Maio de 2008) para a escala planetária!
domingo, 16 de outubro de 2011
Melhorar o mundo
A consciência de que o sistema chegou ao seu limite, de que tem que ser substituído por democracia real, participativa, criativa, continua a aumentar ... e continuará até chegar a abranger mesmo os 1%, aqueles que pensam preferir o passado!
É como "baixar" um programa, como dizem os brasileiros, fazer um "download". Somos os 99%. O download está a fazer-se pacificamente. Daqui a um ano, nos últimos 1%, "é que a porca torce o rabo". Aproveitemos este tempo de paz, de encanto, de esperança, de alegria, de criatividade... exigeons l'impossible!
O movimento em curso é rigorosamente não violento. A violência é sempre uma provocação comprada pelos 1%. Lembremos que a arma do passado é a mentira, a manipulação, a incitação à desistência, ao desespero.
É como "baixar" um programa, como dizem os brasileiros, fazer um "download". Somos os 99%. O download está a fazer-se pacificamente. Daqui a um ano, nos últimos 1%, "é que a porca torce o rabo". Aproveitemos este tempo de paz, de encanto, de esperança, de alegria, de criatividade... exigeons l'impossible!
O movimento em curso é rigorosamente não violento. A violência é sempre uma provocação comprada pelos 1%. Lembremos que a arma do passado é a mentira, a manipulação, a incitação à desistência, ao desespero.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Até à democracia real
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"Let's treat this beautiful movement as if it is the most important thing in the world. Because it is. It really is."
"Tratemos este lindo movimento como se fora a coisa mais importante do mundo. Porque o é. É mesmo."
(in Occupied Wall Street Journal)
Porto: Praça da Batalha, 15 de Outubro, 15:00
A colaboração em vez da competição!
(in Occupied Wall Street Journal)
Porto: Praça da Batalha, 15 de Outubro, 15:00
A colaboração em vez da competição!
domingo, 9 de outubro de 2011
Já chegámos à Madeira?
Lembremos que a fronteira entre a saúde e a doença é indefinível (as definições são arbitrárias, têm origem no pragmatismo). Isto é mais evidente no campo da saúde mental.
Tomemos o exemplo da "negação", aquele processo em que o paciente se recusa a ver algo que é evidente para os outros -- mas que lhe é insuportável. Isto passa-se com todos nós, aqui ou ali; os americanos usam a expressão (denial, negação) na linguagem de todos os dias, é útil que os amigos nos digam o que, estando diante dos nossos olhos, nos recusámos a ver. Quando é que podemos falar em "delírio" ou em "delírio sistematizado", sintomas de demência, já dentro da fronteira da doença? -- Sobretudo quando, posto diante dos factos, o paciente reage com agressividade e obstinação "exageradas", coisa subjectiva, como se vê!
É sabido que o Dr. Alberto João Jardim passou a vida a chantagear os deputados do PSD, ameaçando votar contra o seu partido se a Madeira não fosse privilegiada na despesa pública. Para o seu ponto de vista, a injustiça da insularidade justificava tudo -- incluindo a dívida não declarada que foi fazendo, confiando que o desenvolvimento da região acabaria por a justificar. Mas isto de fazer dívidas não é sustentável -- os credores vão-se tornando caros!
Repetidamente avisado de que se não tratava de um comportamento decente em relação ao resto do país ele foi atribuindo a responsabilidade ao "Continente", que trata a Madeira muito mal!
Será o senhor demente? Essa fronteira mal definida entre a saúde e a doença varia com a cultura em que se está. Ele seria considerado demente num país do Norte, sem dúvida, nunca teria sido eleito, sequer, mas é considerado "esperto", em Portugal; irritante, para alguns, mas "bom para a Madeira", competente governante porque põe a sua região acima do interesse de Portugal.
O mesmo se passa nos Municípios. Na nossa estrutura centralizada os impostos locais não cobrem as despesas e os autarcas tratam de estar de bem com o governo, donde vêm as "verbas". Todos gastam mais que o possível, prometendo votos ao partido, em troca de "verbas" --uma situação insustentável.
Comparemos com uma família em que os filhos se fazem amorosos para ter um gelado, uma biciclete, ou qualquer coisa. Se os pais dependerem emocionalmente dos filhos gastarão mais que o possível -- e serão eles os responsáveis, as crianças não têm acesso ao orçamento familiar, imaginam que se trata de uma nascente, que nunca seca!
Os municípios também fazem as suas "malandrices", desde que não "dê nas vistas": inventam as suas parcerias público-privadas locais, a exemplo do governo central -- escondem as despesas!
Se não quisermos considerar doentia a nossa cultura (se estivermos em "negação"!), teremos, pelo menos, que considerar a nossa irresponsabilidade como pouco adulta -- teremos que lidar com a nossa imaturidade. Donde vem tal coisa? Do paternalista Salazar? Da Inquisição? Seja como for é mais que tempo de crescer, de ver que Portugal é assunto nosso.
A negação essencial que fazemos, os portugueses, é a de que o Estado seja da nossa responsabilidade, de que ele não é um poço sem fundo onde nos vamos abastecer. E, enquanto terapêutica para a nossa demência, a ajuda que o colapso financeiro internacional veio dar à clareza da falência em que estamos pode ser o caminho da saúde!
Já chegámos à Madeira? -- Já! Apenas nos recusamos a ver isso!
Tomemos o exemplo da "negação", aquele processo em que o paciente se recusa a ver algo que é evidente para os outros -- mas que lhe é insuportável. Isto passa-se com todos nós, aqui ou ali; os americanos usam a expressão (denial, negação) na linguagem de todos os dias, é útil que os amigos nos digam o que, estando diante dos nossos olhos, nos recusámos a ver. Quando é que podemos falar em "delírio" ou em "delírio sistematizado", sintomas de demência, já dentro da fronteira da doença? -- Sobretudo quando, posto diante dos factos, o paciente reage com agressividade e obstinação "exageradas", coisa subjectiva, como se vê!
É sabido que o Dr. Alberto João Jardim passou a vida a chantagear os deputados do PSD, ameaçando votar contra o seu partido se a Madeira não fosse privilegiada na despesa pública. Para o seu ponto de vista, a injustiça da insularidade justificava tudo -- incluindo a dívida não declarada que foi fazendo, confiando que o desenvolvimento da região acabaria por a justificar. Mas isto de fazer dívidas não é sustentável -- os credores vão-se tornando caros!
Repetidamente avisado de que se não tratava de um comportamento decente em relação ao resto do país ele foi atribuindo a responsabilidade ao "Continente", que trata a Madeira muito mal!
Será o senhor demente? Essa fronteira mal definida entre a saúde e a doença varia com a cultura em que se está. Ele seria considerado demente num país do Norte, sem dúvida, nunca teria sido eleito, sequer, mas é considerado "esperto", em Portugal; irritante, para alguns, mas "bom para a Madeira", competente governante porque põe a sua região acima do interesse de Portugal.
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| José Socrates no seu último banho tirsense |
Comparemos com uma família em que os filhos se fazem amorosos para ter um gelado, uma biciclete, ou qualquer coisa. Se os pais dependerem emocionalmente dos filhos gastarão mais que o possível -- e serão eles os responsáveis, as crianças não têm acesso ao orçamento familiar, imaginam que se trata de uma nascente, que nunca seca!
Os municípios também fazem as suas "malandrices", desde que não "dê nas vistas": inventam as suas parcerias público-privadas locais, a exemplo do governo central -- escondem as despesas!
Se não quisermos considerar doentia a nossa cultura (se estivermos em "negação"!), teremos, pelo menos, que considerar a nossa irresponsabilidade como pouco adulta -- teremos que lidar com a nossa imaturidade. Donde vem tal coisa? Do paternalista Salazar? Da Inquisição? Seja como for é mais que tempo de crescer, de ver que Portugal é assunto nosso.
A negação essencial que fazemos, os portugueses, é a de que o Estado seja da nossa responsabilidade, de que ele não é um poço sem fundo onde nos vamos abastecer. E, enquanto terapêutica para a nossa demência, a ajuda que o colapso financeiro internacional veio dar à clareza da falência em que estamos pode ser o caminho da saúde!
Já chegámos à Madeira? -- Já! Apenas nos recusamos a ver isso!
domingo, 2 de outubro de 2011
A transparência da abundância
As contas públicas do Concelho de Santo Tirso são rigorosamente transparentes. São publicadas todos os meses em revistas ilustradas distribuídas gratuitamente a todos os munícipes, os quais sobre elas se pronunciam amiúde, incentivando a Câmara Municipal a investir mais em obras de Arte.
Nem a Câmara nem alguma empresa municipal tem dívidas a bancos ou ao Estado e Santo Tirso pode, assim, contribuir, desafogadamente, para o prestígio e dignificação da Justiça, por exemplo, que tão sofredora anda, no resto do País.
O desenho deste novo pavimento de granito, que vem dignificar o Palácio, foi discutido ao pormenor, durante meses, pelos tirsenses, que acreditam na Arte como solução para os problemas da Justiça. Note-se como uma pequena roseira, ali no centro, se mantém, como símbolo da intemporalidade da mesma.
A opinião pública, reflectindo a abundância em que vive a grande maioria da população, tem instado o Edil a aumentar os impostos autárquicos e a investir, ainda mais, no património artístico contemporâneo.
Nem a Câmara nem alguma empresa municipal tem dívidas a bancos ou ao Estado e Santo Tirso pode, assim, contribuir, desafogadamente, para o prestígio e dignificação da Justiça, por exemplo, que tão sofredora anda, no resto do País.
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| O Palácio da Justiça, visto à transparência das contas municipais |
A opinião pública, reflectindo a abundância em que vive a grande maioria da população, tem instado o Edil a aumentar os impostos autárquicos e a investir, ainda mais, no património artístico contemporâneo.
Outro exemplo é a já citada instalação temporária em que a reconstrução do cinema se transformou: bem podem os contabilistas da Câmara explicar o custo desmedido que "atrasos" deste género acarretam às contas públicas -- em Santo Tirso a democracia faz acontecer o que a população exige: a Arte!
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| A Arte sobrepondo-se à economia |
Ainda um outro exemplo é o anunciado projecto de Arquitectura para o Museu Abade Pedrosa. A intenção da Câmara era entregá-lo aos seus arquitectos mas a população exigiu que ela contratasse os dois portugueses mais conhecidos internacionalmente, ambos vencedores de um Prémio Pritzker. E, nesta autarquia, a Democracia directa funciona: o que se faz é a conclusão de um debate cívico exaustivo e bem informado. É, de certa forma, o retomar dos métodos do SAAL: o projecto poderá demorar mas terá, certamente, a mão de todos os tirsenses, será aquele que o povo exige: será uma obra de Arte!
Santo Tirso é dos poucos Concelhos que compreendeu que a Democracia moderna só pode funcionar se houver um rigoroso escrutínio popular das contas públicas. Na Suécia, por exemplo, também não há dívida pública ou de Estado e também se trata de uma excepção, entre os países da Europa. Mas a Suécia é um país protestante, é gente dada a fazer contas, a escolher muito bem quais são as despesas que têm prioridade! O mérito de Santo Tirso é que isso se passa num Concelho com uma cultura claramente católica!
Afinal, quando os políticos eleitos cumprem o seu dever de apresentar, transparentemente, as contas públicas, pode haver, no Sul da Europa, democracia e abundância!
Santo Tirso é dos poucos Concelhos que compreendeu que a Democracia moderna só pode funcionar se houver um rigoroso escrutínio popular das contas públicas. Na Suécia, por exemplo, também não há dívida pública ou de Estado e também se trata de uma excepção, entre os países da Europa. Mas a Suécia é um país protestante, é gente dada a fazer contas, a escolher muito bem quais são as despesas que têm prioridade! O mérito de Santo Tirso é que isso se passa num Concelho com uma cultura claramente católica!
Afinal, quando os políticos eleitos cumprem o seu dever de apresentar, transparentemente, as contas públicas, pode haver, no Sul da Europa, democracia e abundância!
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Se é chocante que os dois partidos que nos têm governado façam orçamentos sempre de valor total superior aos recursos anuais (este ano nove biliões acima, que serão para juntar à nossa divida, a qual nos fica anualmente por seis biliões de encargos orçamentados), muito mais chocante é que não cumpram a Constituição no que diz respeito à posição de Portugal no mundo: defendemos claramente o direito dos povos à auto-determinação, contribuimos orgulhosamente para a independência de Timor-Leste, por exemplo.
A subserviência em relação aos Estados Unidos da America quanto à posição sobre o pedido da Palestina ao Conselho de Segurança para ser reconhecida como Estado é vergonhosa. Portugal faz parte, temporariamente, do Conselho de Segurança da ONU e é natural que a Palestina, conhecedora da nossa Constituição, esteja a contar com o voto favorável de Portugal. As declarações do nosso primeiro-ministro, em Nova York, envergonham o país.
Uma coisa é ser subserviente, na Europa, aos mais fortes, consequência da embaraçosa situação financeira em que, irresponsavelmente, o bloco PS/PSD nos deixou cair; outra é não honrar os nossos compromissos internacionais, designadamente o nosso desígnio de apoiar a libertação dos povos.
Demos a este governo o encargo de governar (eventualmente o direito a nos levar à miséria)-- dentro da Constituição! Não lhe demos o direito de nos desonrar!
A subserviência em relação aos Estados Unidos da America quanto à posição sobre o pedido da Palestina ao Conselho de Segurança para ser reconhecida como Estado é vergonhosa. Portugal faz parte, temporariamente, do Conselho de Segurança da ONU e é natural que a Palestina, conhecedora da nossa Constituição, esteja a contar com o voto favorável de Portugal. As declarações do nosso primeiro-ministro, em Nova York, envergonham o país.
Uma coisa é ser subserviente, na Europa, aos mais fortes, consequência da embaraçosa situação financeira em que, irresponsavelmente, o bloco PS/PSD nos deixou cair; outra é não honrar os nossos compromissos internacionais, designadamente o nosso desígnio de apoiar a libertação dos povos.
Demos a este governo o encargo de governar (eventualmente o direito a nos levar à miséria)-- dentro da Constituição! Não lhe demos o direito de nos desonrar!
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
O primeiro dia de Outono
Coincidiu com o Equinócio, hoje de manhã, a chegada aqui, à minha "caixa" do correio electrónico, de um texto que diz ser de 1967 e que é a descrição do segundo dia de aulas, no diário de uma aluna do Liceu de Setúbal; fala da chegada de um professor novo, Zeca Afonso.
Era tão claro, para nós, que havia países democratas para lá dos Pirinéus e que era tempo de acabar com a ditadura! Era tão evidente que deveria haver partidos políticos, que a censura deveria acabar, que haveríamos de ter Democracia, mais ano menos ano! Lembro-me das discussões com a geração anterior, que dizia sermos diferentes dos povos do Norte, que dizia que a Democracia não era adequada à nossa cultura!
Sete anos depois o desejo realizou-se: em 25 de Abril de 1974 o regime caiu e, dois anos depois, estava pronta a Constituição democrata mais impecável da Europa -- e do Mundo! Descansámos.
O tempo passou.
Nunca imaginei, nesse tempo, que poderíamos cair numa oligarquia. Hoje é tão evidente que não vivemos em democracia, apesar de termos partidos políticos e de não termos censura, que o inimaginável aconteceu: surpreendi-me a pensar que, se calhar, a nossa cultura de povo do Sul pede uma democracia estruturalmente diferente da dos povos do Norte.
Não tivemos a Reforma protestante: tivemos a Inquisição; somos diferentes! A nossa História, a nossa cultura, a nossa alma é diferente! Desejamos ainda a democracia, a liberdade, a dignidade humana -- a forma que importámos não nos serviu!
Parecia tão evidente, na minha adolescência, que nos bastaria imitar as leis dos povos de além-Pirinéus! Pareciam tão absurdas as razões dos que diziam o contrário!
Hoje, é minha convicção que nos compete, como povo, reinventar a democracia; criar uma nova estrutura, uma que favoreça a vida, a dignidade humana, a alegria... uma estrutura em que seja divertido viver, sem prejudicar ninguém, sem medo da velhice num asilo miserável, sem a mania da competição, substituída pela da colaboração, pela Liberdade que a Igualdade traz!
E é minha esperança que, daqui a sete anos, a teremos inventado. E que a Europa e o Mundo nos olharão surpreendidos -- com vontade de cá vir, para aprender!
Era tão claro, para nós, que havia países democratas para lá dos Pirinéus e que era tempo de acabar com a ditadura! Era tão evidente que deveria haver partidos políticos, que a censura deveria acabar, que haveríamos de ter Democracia, mais ano menos ano! Lembro-me das discussões com a geração anterior, que dizia sermos diferentes dos povos do Norte, que dizia que a Democracia não era adequada à nossa cultura!
Sete anos depois o desejo realizou-se: em 25 de Abril de 1974 o regime caiu e, dois anos depois, estava pronta a Constituição democrata mais impecável da Europa -- e do Mundo! Descansámos.
O tempo passou.
Nunca imaginei, nesse tempo, que poderíamos cair numa oligarquia. Hoje é tão evidente que não vivemos em democracia, apesar de termos partidos políticos e de não termos censura, que o inimaginável aconteceu: surpreendi-me a pensar que, se calhar, a nossa cultura de povo do Sul pede uma democracia estruturalmente diferente da dos povos do Norte.
Não tivemos a Reforma protestante: tivemos a Inquisição; somos diferentes! A nossa História, a nossa cultura, a nossa alma é diferente! Desejamos ainda a democracia, a liberdade, a dignidade humana -- a forma que importámos não nos serviu!
Parecia tão evidente, na minha adolescência, que nos bastaria imitar as leis dos povos de além-Pirinéus! Pareciam tão absurdas as razões dos que diziam o contrário!
Hoje, é minha convicção que nos compete, como povo, reinventar a democracia; criar uma nova estrutura, uma que favoreça a vida, a dignidade humana, a alegria... uma estrutura em que seja divertido viver, sem prejudicar ninguém, sem medo da velhice num asilo miserável, sem a mania da competição, substituída pela da colaboração, pela Liberdade que a Igualdade traz!
E é minha esperança que, daqui a sete anos, a teremos inventado. E que a Europa e o Mundo nos olharão surpreendidos -- com vontade de cá vir, para aprender!
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
24 horas de REALIDADE
Na quinta-feira, 15 de Setembro, a partir da 01:00 da manhã e durante 24 horas vamos poder ver a realidade das alterações climáticas: uma hora para cada fuso horário, as consequências do abuso dos combustíveis fósseis, em directo, na vida das pessoas.
A desinformação, os milhões que têm sido gastos a fazer-nos crer que "não é bem assim", "isso é catastrofismo", etc não podem nada contra a REALIDADE.
A desinformação, os milhões que têm sido gastos a fazer-nos crer que "não é bem assim", "isso é catastrofismo", etc não podem nada contra a REALIDADE.
domingo, 11 de setembro de 2011
11 de Setembro
11 de Setembro
Faz hoje 38 anos que o governo democráticamente eleito do Chile foi derrubado por um golpe militar. Allende morto, o general Pinochet organizou a sua ditadura, que se acompanhou de milhares de mortos.
A CIA, a Administração americana, incentivou Pinochet a derrubar a democracia.
É! A democracia americana tem destas coisas! Criou o medo e a repressão por muitos anos.
28 anos depois, assistimos em directo a um crime espectacular: o derrube das twin towers, em Nova York. É legítimo imaginar, dadas as grandes vantagens que trouxe aos negociantes de armas e de petróleo, que o crime tenha tido a mesma origem. Durante muitos anos Osama ben Laden e a CIA partilharam o inimigo russo no Afeganistão. Poderiam ter partilhado mais um interesse comum? Entre o povo americano e a sua oligarquia financeira há grandes diferenças!
Não conheço a verdade mas o que parece absurdo não deve ser afastado como hipótese de investigação.
O memorial, com dois lagos no sítio onde se erguiam as torres Norte e Sul, os quais têm uma cachoeira a toda a volta que cai na água, lá no fundo, lagos cercados por uma bordadura em bronze com os nomes de todos os mortos desse crime, parece-me muito bem conseguido, como projecto de Arquitectura. O parque com 400 carvalhos decerto ficará maravilhoso, com o tempo.
Este é o símbolo egípcio da água, uat, que também quer dizer "verde":
a água e os carvalhos. Símbolo da vida, na nossa civilização e, também, na dos nativos norte-americanos, a água é um símbolo de sabedoria para o Taoísmo, porque contorna os obstáculos, sempre fluindo. Nos lagos do memorial ela corre sempre (isso vê-se mesmo na superfície) e some-se nas profundezas do desconhecido. Símbolo do inconsciente, dos sentimentos, nada melhor para representar a suprema irracionalidade daquele crime. Da metade direita do nosso cérebro, "domesticável" pela Arte.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Faz hoje 38 anos que o governo democráticamente eleito do Chile foi derrubado por um golpe militar. Allende morto, o general Pinochet organizou a sua ditadura, que se acompanhou de milhares de mortos.
A CIA, a Administração americana, incentivou Pinochet a derrubar a democracia.
É! A democracia americana tem destas coisas! Criou o medo e a repressão por muitos anos.
28 anos depois, assistimos em directo a um crime espectacular: o derrube das twin towers, em Nova York. É legítimo imaginar, dadas as grandes vantagens que trouxe aos negociantes de armas e de petróleo, que o crime tenha tido a mesma origem. Durante muitos anos Osama ben Laden e a CIA partilharam o inimigo russo no Afeganistão. Poderiam ter partilhado mais um interesse comum? Entre o povo americano e a sua oligarquia financeira há grandes diferenças!
Não conheço a verdade mas o que parece absurdo não deve ser afastado como hipótese de investigação.
O memorial, com dois lagos no sítio onde se erguiam as torres Norte e Sul, os quais têm uma cachoeira a toda a volta que cai na água, lá no fundo, lagos cercados por uma bordadura em bronze com os nomes de todos os mortos desse crime, parece-me muito bem conseguido, como projecto de Arquitectura. O parque com 400 carvalhos decerto ficará maravilhoso, com o tempo.
Este é o símbolo egípcio da água, uat, que também quer dizer "verde":
a água e os carvalhos. Símbolo da vida, na nossa civilização e, também, na dos nativos norte-americanos, a água é um símbolo de sabedoria para o Taoísmo, porque contorna os obstáculos, sempre fluindo. Nos lagos do memorial ela corre sempre (isso vê-se mesmo na superfície) e some-se nas profundezas do desconhecido. Símbolo do inconsciente, dos sentimentos, nada melhor para representar a suprema irracionalidade daquele crime. Da metade direita do nosso cérebro, "domesticável" pela Arte.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
Ricardo Reis
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Sair da rotina
E se governantes (em Lisboa ou nas Camaras) experimentassem sair da rotina? A rotina é fazer obras, comprar material novo para os seus inúmeros escritórios -- que seríamos nós sem uma boa administração publica? -- e, quando o dinheiro falta, perdão, as "verbas", aumentar taxas, inventar novas ou cortar a "privilégios" que as pessoas ingénuas já tomavam por "direitos". Hoje ficámos a saber que a bombinha dos asmáticos, algumas vacinas e a pílula anticoncepcional são luxos para quem tiver "verbas". Se a economia consiste em fazer uma lista das prioridades para as despesas, governar é fazer essa lista para os portugueses. Parece que escolher as prioridades não é para cabeças burocratas! Mas poderiam experimentar, aventurar-se... Por exemplo: se para ser gestor de uma Empresa Publica fosse preciso ter carro e carta de condução, os lugares ficariam vagos? Ou seriam preenchidos por incompetentes sem qualquer sensibilidade para as dificuldades das pessoas, dos que servem? E se fossem pagos a recibos verdes? Seriam os cargos ocupados por gestores insensiveis, que poriam a decoração do escritorio à frente do Servico da empresa? Arrisquem!
domingo, 28 de agosto de 2011
A arte e o "marketing".
"O marketing é o contrário da arte: enquanto a arte usa a mentira para nos fazer acreditar na verdade, aquele usa a verdade para nos fazer acreditar na mentira!"
(Simetria descoberta por António Moreira Simões, o nosso mais competente designer industrial.)
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
A "Orde" é rica!
Deixei, no título, a expressão "A Ordem é rica" na sua pronúncia popular, pela ambiguidade com "horda": a percentagem da população que habitava os conventos, no século XVIII, era, para alguns, de 80%!
Imaginemos o mundo da era anterior à nossa, há mais de 250 anos: não havia sociedades por acções, não havia hedge funds, nada do que caracteriza o capitalismo contemporâneo. A corte era rica, o Rei ficava com 1/5 de todos os minérios brasileiros, havia algumas pessoas que tinham trazido dinheiro do Brasil mas, fundamentalmente, no país anterior à revolução industrial, que tinha expulso os portugueses mais dados ao comércio (os quais, por exemplo, feitos holandeses, criaram a cidade de Nova York mas que, cá, teriam tido que aturar a Inquisição), a maior fonte de riqueza era o trabalho dos agricultores, os frutos da terra. E as terras férteis pertenciam sobretudo às Ordens religiosas, que as conservavam desde os primórdios, ao contrário da nobreza, pouco dada a bem gerir o seu património.
O Abade de Santo Tirso era um dos homens mais ricos do país. Ficou célebre D. Miguel da Silva, que se incompatiblizou com D. João III, creio que por não concordar com a Inquisição, e, mesmo assim, foi feito cardeal em Roma, para onde tinha sido forçado a emigrar. Foi ele que trouxe um arquitecto italiano para as suas obras na Foz do Douro, região que pertencia às terras do Mosteiro de Santo Tirso.
As obras beneditinas nunca mais pararam: o estilo "moderno", o barroco, foi usado para substituir os mosteiros anteriores, por todos os lados. A Ordem era, de facto, rica! Muitos de nós gostariam de conhecer o mosteiro renascentista de Santo Tirso, provavelmente um exemplo da chamada "arquitectura chã", tão do gosto dos modernistas da "Escola do Porto", que ainda pontificam na Faculdade de Arquitectura: impossível! Esse mosteiro sucumbiu à moda do barroco, foi arrasado para dar lugar ao actual.
Creio que vem daí, desses gastos sumptuosos do século XVIII, a expressão que ficou em Santo Tirso, quando se vê alguém gastar sem cuidado, fazer gastos inúteis: “a Ordem é rica e os frades são poucos!”.
Estamos de novo no fim de uma era. Qual é a estrutura que tem tido mundos e fundos e corresponde, na actualidade, aos mosteiros do século XVIII, até pelo número de pessoas que dela dependem?
Para responder vou contar uma história que se passou com uma pessoa minha conhecida, que anda a montar uma clínica privada e precisa de material médico e de móveis: calhou-lhe ver o depósito de lixo do Hospital onde trabalha e não caía em si ao ver material novo, de toda a espécie. Perguntou ao funcionário, cuja missão é velar pelo lixo, qual o caminho burocrático para comprar algumas secretárias, cadeiras, etc.
A resposta foi que é impossível. Porquê? --É assim! --E porque é que este material foi substituído? --De 3 em 3 anos o material é todo substituído, "é assim"! --O meu computador tem mais que 3 anos mas isso até compreendo... mas as cadeiras? --"É assim"! --E para onde é que isto vai? --Para o lixo; entretanto a minha responsabilidade consiste em assegurar que nada falte aqui, no lixo.
Para onde irá, dali, tanto "lixo"? Ninguém se atreve, sequer, a perguntar tal coisa à burocracia, muito menos os burocratas: "é assim"!
"A ordem é rica"! No século XVIII os lavradores sobre-explorados ainda mais extorquidos foram; a solução era ir para frade, terrível para quem gostasse de criar coisas palpáveis; tal como tem sido, entre nós, ir para funcionário público, terrível para quem não suportar as finalidades inúteis da burocracia.
Foi assim enquanto durou o ouro do Brasil, "é assim" enquanto durar a possibilidade de aumentar a dívida portuguesa. Mas estes são tempos de mudança, análogos aos que se seguiram ao terramoto de Lisboa!
Mudança para melhor! Imagino o que serão todas as empresas públicas, cada uma com o seu "depósito de lixo"-- elas são inúmeras!; os seus gastos (para benefício das empresas "amigas") devem ser incalculáveis: "A ordem é rica", não faz contas. "Ele" há de haver quem pague!
A exploração do indígena tem, porém, um limite: no passado veio com a difusão das "luzes", com os jornais. No nosso tempo... "google" a informação, ela existe!
Nota de 3 de Setembro de 2011:
Isto foi escrito para criticar a leviandade com que Hospitais, Câmaras e todo o tipo de Empresas Públicas tratam os recursos de que dispõem. "Irresponsabilidade", "infantilidade", "falta de bom senso", "espírito burocrata", são termos quiçá benignos para o que alguns chamam desonestidade. Não inventei a história que contei: passou-se assim!
Mas o texto, que não modifiquei, foi escrito com essa mesma leviandade: deixa o leitor pensar que a Igreja Matriz seja barroca, quando esta "Igreja nova", como foi chamada na época, é obra de Frei João Turriano, no século XVII, e pode ser chamada de arquitectura chã, pela sua planta de "igreja salão". É claro que, posteriormente, recebeu a talha dourada barroca que os beneditinos tanto incrementaram, assim como a fachada da "Porta branca", também barroca, obra de André Soares Ribeiro da Silva, um «curioso de Architectura», como se autodesignava, no século XVIII. O Mosteiro propriamente dito é barroco, a entrada do actual museu Abade Pedrosa é um exemplo de barroco bracarense. E eu gostaria de conhecer o edifício anterior a esse, o qual existiria não fora "a Ordem ser rica"!
Imaginemos o mundo da era anterior à nossa, há mais de 250 anos: não havia sociedades por acções, não havia hedge funds, nada do que caracteriza o capitalismo contemporâneo. A corte era rica, o Rei ficava com 1/5 de todos os minérios brasileiros, havia algumas pessoas que tinham trazido dinheiro do Brasil mas, fundamentalmente, no país anterior à revolução industrial, que tinha expulso os portugueses mais dados ao comércio (os quais, por exemplo, feitos holandeses, criaram a cidade de Nova York mas que, cá, teriam tido que aturar a Inquisição), a maior fonte de riqueza era o trabalho dos agricultores, os frutos da terra. E as terras férteis pertenciam sobretudo às Ordens religiosas, que as conservavam desde os primórdios, ao contrário da nobreza, pouco dada a bem gerir o seu património.
O Abade de Santo Tirso era um dos homens mais ricos do país. Ficou célebre D. Miguel da Silva, que se incompatiblizou com D. João III, creio que por não concordar com a Inquisição, e, mesmo assim, foi feito cardeal em Roma, para onde tinha sido forçado a emigrar. Foi ele que trouxe um arquitecto italiano para as suas obras na Foz do Douro, região que pertencia às terras do Mosteiro de Santo Tirso.
As obras beneditinas nunca mais pararam: o estilo "moderno", o barroco, foi usado para substituir os mosteiros anteriores, por todos os lados. A Ordem era, de facto, rica! Muitos de nós gostariam de conhecer o mosteiro renascentista de Santo Tirso, provavelmente um exemplo da chamada "arquitectura chã", tão do gosto dos modernistas da "Escola do Porto", que ainda pontificam na Faculdade de Arquitectura: impossível! Esse mosteiro sucumbiu à moda do barroco, foi arrasado para dar lugar ao actual.
Creio que vem daí, desses gastos sumptuosos do século XVIII, a expressão que ficou em Santo Tirso, quando se vê alguém gastar sem cuidado, fazer gastos inúteis: “a Ordem é rica e os frades são poucos!”.
Estamos de novo no fim de uma era. Qual é a estrutura que tem tido mundos e fundos e corresponde, na actualidade, aos mosteiros do século XVIII, até pelo número de pessoas que dela dependem?
Para responder vou contar uma história que se passou com uma pessoa minha conhecida, que anda a montar uma clínica privada e precisa de material médico e de móveis: calhou-lhe ver o depósito de lixo do Hospital onde trabalha e não caía em si ao ver material novo, de toda a espécie. Perguntou ao funcionário, cuja missão é velar pelo lixo, qual o caminho burocrático para comprar algumas secretárias, cadeiras, etc.
A resposta foi que é impossível. Porquê? --É assim! --E porque é que este material foi substituído? --De 3 em 3 anos o material é todo substituído, "é assim"! --O meu computador tem mais que 3 anos mas isso até compreendo... mas as cadeiras? --"É assim"! --E para onde é que isto vai? --Para o lixo; entretanto a minha responsabilidade consiste em assegurar que nada falte aqui, no lixo.
Para onde irá, dali, tanto "lixo"? Ninguém se atreve, sequer, a perguntar tal coisa à burocracia, muito menos os burocratas: "é assim"!
"A ordem é rica"! No século XVIII os lavradores sobre-explorados ainda mais extorquidos foram; a solução era ir para frade, terrível para quem gostasse de criar coisas palpáveis; tal como tem sido, entre nós, ir para funcionário público, terrível para quem não suportar as finalidades inúteis da burocracia.
Foi assim enquanto durou o ouro do Brasil, "é assim" enquanto durar a possibilidade de aumentar a dívida portuguesa. Mas estes são tempos de mudança, análogos aos que se seguiram ao terramoto de Lisboa!
Mudança para melhor! Imagino o que serão todas as empresas públicas, cada uma com o seu "depósito de lixo"-- elas são inúmeras!; os seus gastos (para benefício das empresas "amigas") devem ser incalculáveis: "A ordem é rica", não faz contas. "Ele" há de haver quem pague!
A exploração do indígena tem, porém, um limite: no passado veio com a difusão das "luzes", com os jornais. No nosso tempo... "google" a informação, ela existe!
Nota de 3 de Setembro de 2011:
Isto foi escrito para criticar a leviandade com que Hospitais, Câmaras e todo o tipo de Empresas Públicas tratam os recursos de que dispõem. "Irresponsabilidade", "infantilidade", "falta de bom senso", "espírito burocrata", são termos quiçá benignos para o que alguns chamam desonestidade. Não inventei a história que contei: passou-se assim!
Mas o texto, que não modifiquei, foi escrito com essa mesma leviandade: deixa o leitor pensar que a Igreja Matriz seja barroca, quando esta "Igreja nova", como foi chamada na época, é obra de Frei João Turriano, no século XVII, e pode ser chamada de arquitectura chã, pela sua planta de "igreja salão". É claro que, posteriormente, recebeu a talha dourada barroca que os beneditinos tanto incrementaram, assim como a fachada da "Porta branca", também barroca, obra de André Soares Ribeiro da Silva, um «curioso de Architectura», como se autodesignava, no século XVIII. O Mosteiro propriamente dito é barroco, a entrada do actual museu Abade Pedrosa é um exemplo de barroco bracarense. E eu gostaria de conhecer o edifício anterior a esse, o qual existiria não fora "a Ordem ser rica"!
domingo, 7 de agosto de 2011
Tempos de mudança (V)
Esta semana o mundo sentir-se-à abalado nos seus alicerces, vai sentir-se traído pela Razão, pelas "luzes" em que confiou, vai para um quarto de milénio, para que criassem o Estado moderno, que, nos próximos anos, chegará ao fim, terá que ser substituído.
O trabalho central, destes tempos em que estamos, é imaginar, criar, a estrutura social da nova era. Portugal já descobriu mundos até aí desconhecidos, já criou a primeira globalização, já esteve no início de uma nova era; poderá contribuir?
De nosso nome Lusitânia, terra da Luz, estamos soberbamente conscientes do falhanço do Estado moderno, enquanto estrutura confiável para lidar com o tempo presente. Como aliados, países capazes de entender a necessidade de mudar estruturalmente, temos a Grécia, berço da nossa civilização, a Irlanda, berço da Cristandade europeia, ainda à espera do Rei Artur, a vizinha Espanha, que espera, na "Porta do Sol", pelo amanhecer, a Itália, berço do Império Romano, de quem herdámos o Direito, a justiça prática... e juntar-se-à a nós o mundo anglófono, surpreendido com o desabar do seu Império financeiro.
Estarão os nossos jovens juristas a criar, com a imaginação, as estruturas para propor ao mundo? Não queremos perder, nem a ideia de Democracia, que herdámos dos gregos, nem a fraternidade que a Irlanda implantou entre os bárbaros, nem a grandeza, de quando a península foi dona do mundo, nem o Direito, dura lex sed lex, que permitiu o comércio e o enriquecimento, nem os direitos humanos, invenção do novo mundo. Sabemos que este instrumento informático, a comunicação que estamos a usar, a qual chega instantaneamente a toda a parte, faz parte da solução; mais não sabemos. E é tempo, mais que tempo, de projectarmos a estrutura jurídica da nova era.
Que as portas do Sol o deixem entrar para um mundo em paz!
O trabalho central, destes tempos em que estamos, é imaginar, criar, a estrutura social da nova era. Portugal já descobriu mundos até aí desconhecidos, já criou a primeira globalização, já esteve no início de uma nova era; poderá contribuir?
De nosso nome Lusitânia, terra da Luz, estamos soberbamente conscientes do falhanço do Estado moderno, enquanto estrutura confiável para lidar com o tempo presente. Como aliados, países capazes de entender a necessidade de mudar estruturalmente, temos a Grécia, berço da nossa civilização, a Irlanda, berço da Cristandade europeia, ainda à espera do Rei Artur, a vizinha Espanha, que espera, na "Porta do Sol", pelo amanhecer, a Itália, berço do Império Romano, de quem herdámos o Direito, a justiça prática... e juntar-se-à a nós o mundo anglófono, surpreendido com o desabar do seu Império financeiro.
Estarão os nossos jovens juristas a criar, com a imaginação, as estruturas para propor ao mundo? Não queremos perder, nem a ideia de Democracia, que herdámos dos gregos, nem a fraternidade que a Irlanda implantou entre os bárbaros, nem a grandeza, de quando a península foi dona do mundo, nem o Direito, dura lex sed lex, que permitiu o comércio e o enriquecimento, nem os direitos humanos, invenção do novo mundo. Sabemos que este instrumento informático, a comunicação que estamos a usar, a qual chega instantaneamente a toda a parte, faz parte da solução; mais não sabemos. E é tempo, mais que tempo, de projectarmos a estrutura jurídica da nova era.
Que as portas do Sol o deixem entrar para um mundo em paz!
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Nas suas andanças pela Galileia, o Filho do Homem, uma vez, feriu-se na mão direita, no indicador, e Maria Magdalena envolveu carinhosamente o dedo num bocado de tecido. Seca a ferida, a santa mulher guardou o pano, sujo com o sangue daquele que indicara o caminho.
Esse pano está hoje num mosteiro ortodoxo grego e dá de comer (junto com o que cultivam) aos monges que o habitam.
Tenho simpatia pelos peregrinos que fazem uma promessa ao farrapo e lhe dão uma esmola. Imagino que o Filho do Homem também, o amor precisa de formas para se expressar, e essa, por tão simples, é bela.
Os fariseus contemporâneos, porém, para quem a relíquia é apenas um farrapo, descobriram-no e trataram de o “recuperar” para ser exposto em Roma, onde as esmolas têm a forma de bilhetes e os peregrinos a forma de turistas culturais, um negócio que paga impostos e é um dos pilares da economia local. O seu projecto de marketing contém ainda um estudo ao ADN do sangue que ficou no pano (é um pouco tarde para o encontrarem mas não para o sucesso do marketing) e há quem fale, ainda, numa pesquisa de impressões digitais com um método recentíssimo.
Para isso mobilizaram toda a cristandade cultural, todos os que querem descobrir o caminho a partir da Ciência, escandalizados com o abandono em que tal monumento esteve, durante tantos séculos.
Tenho simpatia por essa gente toda: é, afinal, uma forma confusa de expressar amor.
O dedo ferido, porém, indicava o próximo, aquele irmão, ao nosso lado, que precisa de nós.
Esta história é completamente inventada, embora verdadeira, é preciso dizer!
Esta história é completamente inventada, embora verdadeira, é preciso dizer!
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Radicalismo
A palavra radicalismo vem de raiz; nas ideias será o que têm de mais primitivo, a sua essência sem floreados.
Porém, as ideias são as flores da evolução biológica, são esperança de fruto, de novas raízes, de continuação da vida, sob nova forma. Uma flor que se toma por raiz recusa transformar-se em fruto, recusa morrer, como é o seu destino de flor, para dar fruto, semente, esperança de novas flores a vir, idênticas mas diferentes.
É vulgar os radicais endeusarem a morte, dizerem coisas como "viva la muerte!", o que é, claramente, o contrário de "viva a vida!", ou seja, a mudança, a evolução. Agarram-se, desesperadamente, àquela forma de vida enterrada, a raiz, esquecendo que "todo o Mundo é composto de mudança", como diz o poeta.
Creio que a ideia de Democracia ganhou a Europa e grande parte do mundo porque propõe a mudança que vem do debate livre de ideias, propõe a discussão da qual nasce a luz, aceita que as ideias são para evoluir e que todas são necessárias para que nasçam as novas, suas filhas. É ideia fértil, a Democracia, é o fruto maduro da nossa civilização e certamente estará na raiz das ideias novas, que os tempos pedem.
Mas é uma ideia grega, melhor, o cruzamento, o fruto, feito no Renascimento, designadamente em Florença (que até parece vir de flor, em português!), da Grécia Antiga com a Europa medieval, de Carlos Magno e de Ricardo Coração de Leão.
É natural que seja na terra dos bárbaros, nos países que mais longe estavam da civilização grega e dos seus admiradores romanos, que o radicalismo cristão, das cruzadas, apareça. Paradoxalmente, onde as flores da democracia moderna atingiram o seu esplendor!
É legítimo, em democracia, que as ideias radicais se exprimam, que se mostrem na ágora (que hoje é a televisão e o internet) e tentem convencer a maioria: da discussão nasce a luz.
O que não é legítimo, o que é morte da nossa espécie biológica, de uma evolução crucial que partilhamos com outros primatas, no seu ADN, é pôr em causa a noção de que é errado matar, de que "os fins não justificam os meios". Sempre que esse radicalismo rebenta (milhares de vezes na História!), ele perde para a poderosa raiz genética, que é a nossa, que nos pede a luta leal, sem matar o adversário.
As manifestações populares que se passam agora, na Noruega, são a prova disso. Oxalá, enquanto vacina para uma Europa já doente, a tragédia tenha sido, pelo menos, eficaz!
Porém, as ideias são as flores da evolução biológica, são esperança de fruto, de novas raízes, de continuação da vida, sob nova forma. Uma flor que se toma por raiz recusa transformar-se em fruto, recusa morrer, como é o seu destino de flor, para dar fruto, semente, esperança de novas flores a vir, idênticas mas diferentes.
É vulgar os radicais endeusarem a morte, dizerem coisas como "viva la muerte!", o que é, claramente, o contrário de "viva a vida!", ou seja, a mudança, a evolução. Agarram-se, desesperadamente, àquela forma de vida enterrada, a raiz, esquecendo que "todo o Mundo é composto de mudança", como diz o poeta.
Creio que a ideia de Democracia ganhou a Europa e grande parte do mundo porque propõe a mudança que vem do debate livre de ideias, propõe a discussão da qual nasce a luz, aceita que as ideias são para evoluir e que todas são necessárias para que nasçam as novas, suas filhas. É ideia fértil, a Democracia, é o fruto maduro da nossa civilização e certamente estará na raiz das ideias novas, que os tempos pedem.
Mas é uma ideia grega, melhor, o cruzamento, o fruto, feito no Renascimento, designadamente em Florença (que até parece vir de flor, em português!), da Grécia Antiga com a Europa medieval, de Carlos Magno e de Ricardo Coração de Leão.
É natural que seja na terra dos bárbaros, nos países que mais longe estavam da civilização grega e dos seus admiradores romanos, que o radicalismo cristão, das cruzadas, apareça. Paradoxalmente, onde as flores da democracia moderna atingiram o seu esplendor!
É legítimo, em democracia, que as ideias radicais se exprimam, que se mostrem na ágora (que hoje é a televisão e o internet) e tentem convencer a maioria: da discussão nasce a luz.
O que não é legítimo, o que é morte da nossa espécie biológica, de uma evolução crucial que partilhamos com outros primatas, no seu ADN, é pôr em causa a noção de que é errado matar, de que "os fins não justificam os meios". Sempre que esse radicalismo rebenta (milhares de vezes na História!), ele perde para a poderosa raiz genética, que é a nossa, que nos pede a luta leal, sem matar o adversário.
As manifestações populares que se passam agora, na Noruega, são a prova disso. Oxalá, enquanto vacina para uma Europa já doente, a tragédia tenha sido, pelo menos, eficaz!
domingo, 24 de julho de 2011
Passei, agora, num passeio de uma rua do Porto onde um homem, agachado, limpava o chão de um resto de cigarro ainda aceso; depois reparei que, ao lado, um outro dormia e percebi que este se preparava para dormir, também. Bem estacionado, estava um BMW preto, alto e enorme, desses que parecem tanques blindados com todo o conforto lá dentro...
Aquele monstro de ar agressivo parecia defender-se, com seus alarmes sofisticados, destes homens indefesos que dormiam na rua... talvez o seu dono achasse que "era necessário", como dizia aquele norueguês que se defendeu, a tiro, de tantos jovens indefesos, culpados de se preocuparem com a pobreza; eram uma verdadeira ameaça -- mas foram mortos.
Os governantes europeus, reunidos lá em cima pelo medo, deram um sinal de quê, de inteligência?
Não basta saber História para a fazer. Conhecimentos e inteligência não passam de ferramentas para criar os sonhos. Teremos, europeus, a arte de os fazer sonhar os nossos sonhos?
(Porque não acredito que se possam sonhar carros tão feios como aquele, nem chacinas tão tolas como aquela, nem moedas tão fortes à custa de tanta miséria!).
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Muitos parabéns, Nelson Mandela!
Somos centenas de milhões a sentir Nelson Mandela como da nossa família, a partilhar com ele valores como a não-violência ou a importância da dignidade humana, a não aceitar a fome e a guerra como inevitáveis, a ter esperança.
Mandela esteve 28 anos preso mas já passaram 21 desde que foi libertado, em 1990.
Gostaríamos que ele vivesse até aos cento e muitos para que pudesse ver a nova estrutura que está para chegar: " Temos como óbvio que é possível e que é um dever de todos os homens e mulheres assegurar uns aos outros a liberdade e a dignidade, durante toda a vida".
![]() |
| 11 de Fevereiro de 1990 |
Mandela esteve 28 anos preso mas já passaram 21 desde que foi libertado, em 1990.
Gostaríamos que ele vivesse até aos cento e muitos para que pudesse ver a nova estrutura que está para chegar: " Temos como óbvio que é possível e que é um dever de todos os homens e mulheres assegurar uns aos outros a liberdade e a dignidade, durante toda a vida".
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Debtocracy, dívidocracia.
Este filme, um documentário que passou ontem na SIC Notícias, é fundamental para compreendermos a crise (final, ao que parece!) do sistema financeiro mundial, que terá que mudar.
Mas é preciso uma população consciente para que haja a necessária mudança: quem tem poder parece ser uma máquina de fazer dinheiro inconsciente.
Somos escravos dela, de uma forma análoga à antiga escravatura (que ainda existe em Africa e não só). Sem saída, inconscientes de que somos explorados e procurando não ficar pior, procurando ser escravos privilegiados, portarmo-nos bem para não ir parar aos trabalhos mais duros.
Parabéns aos cineastas gregos que criaram este documentário!
Mas é preciso uma população consciente para que haja a necessária mudança: quem tem poder parece ser uma máquina de fazer dinheiro inconsciente.
Somos escravos dela, de uma forma análoga à antiga escravatura (que ainda existe em Africa e não só). Sem saída, inconscientes de que somos explorados e procurando não ficar pior, procurando ser escravos privilegiados, portarmo-nos bem para não ir parar aos trabalhos mais duros.
Parabéns aos cineastas gregos que criaram este documentário!
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Pinta-se um quadro,
em tons de azul, por exemplo,
com vida, valores, conceitos coerentes.
Se o quadro for belo e se gostarmos dele,
alguns toques de vermelho são tensão aceite.
Mas manchas grandes e de cores estranhas,
personagens de outros quadros,
músicas diferentes,
por estragarem o sossego da beleza,
irritam os amantes do quadro que escolheram.
Que lutam, que derramam tons de azul com crescente fúria,
até que, da harmonia, há só memória rude.
Prefiro o real aos quadros que se pintam.
Sei que, a harmonia, só o todo a mostra
e que, se a não vejo, me tenho que afastar.
Sei que ela está lá e tem todas as cores.
Tem guerra, tem pobreza, tem iates e festejos;
tem luta, tem amor, tem todos os conceitos
do que seja o belo, que só o todo é.
A vida não é luta, é harmonia em que a luta cabe;
é sempre mais que o que vemos,
inseridos nela.
A beleza transcende-nos mas,
em momentos distraídos da nossa condição,
vemos a obra toda.
E o real nos apaixona.
em tons de azul, por exemplo,
com vida, valores, conceitos coerentes.
Se o quadro for belo e se gostarmos dele,
alguns toques de vermelho são tensão aceite.
Mas manchas grandes e de cores estranhas,
personagens de outros quadros,
músicas diferentes,
por estragarem o sossego da beleza,
irritam os amantes do quadro que escolheram.
Que lutam, que derramam tons de azul com crescente fúria,
até que, da harmonia, há só memória rude.
Prefiro o real aos quadros que se pintam.
Sei que, a harmonia, só o todo a mostra
e que, se a não vejo, me tenho que afastar.
Sei que ela está lá e tem todas as cores.
Tem guerra, tem pobreza, tem iates e festejos;
tem luta, tem amor, tem todos os conceitos
do que seja o belo, que só o todo é.
A vida não é luta, é harmonia em que a luta cabe;
é sempre mais que o que vemos,
inseridos nela.
A beleza transcende-nos mas,
em momentos distraídos da nossa condição,
vemos a obra toda.
E o real nos apaixona.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Uma censura à Câmara de Santo Tirso
Louvei aqui, há mais de um ano, a coragem que a Câmara de Santo Tirso mostrou, ao encomendar, a um dos mais caros artistas plásticos contemporâneos, o escultor e arquitecto A. (o anonimato é marca da sua poética), uma instalação temporária, "Ceci", que usa um ready made, uma grua gigante, obra que trouxe à cidade mais notoriedade e mais visitantes que os que já tinham trazido todas as esculturas do nosso museu ao ar livre.
Descrevi, na altura, o artista como um funcionalista que exacerba a função estética; para ele a função da Arte é produzir emoções artísticas e essas emoções estão no cerne da espiritualidade humana. A Arte, para cumprir a sua função, segundo ele, tem que ser rigorosamente inútil, efémera e anônima.
Entretanto os tirsenses foram-se afeiçoando de tal maneira à obra de Arte que pediram à Câmara que a não retirasse, como estava previsto, sendo ela uma instalação temporária e logo uma de um autor que tem o culto do efémero (lembro-me de A. descrever a emoção artística, logo espiritual, que sentia diante de uma xícara de café saído da máquina, exactamente porque sabia que o ia beber, ou seja, estava consciente do efémero da emoção -- e bebia-o de um trago!).
Ora a nossa Câmara é muito sensível à opinião pública e desejava manter a obra no seu lugar cimeiro na cidade, como era o desejo dos tirsenses. Depois de difíceis negociações com o autor, conseguiu convencê-lo a permitir que "Ceci" continuasse, desde que toda a praça fosse transformada num estaleiro rigorosamente inútil, o qual criasse nos tirsenses "o delicioso incómodo da emoção artística" que A. sentira, fascinado, durante o "Porto, Capital Europeia da Cultura". Foi assim que a Câmara destruiu o jardim e fechou ruas, com o aplauso agradecido dos tirsenses, que apreciam a beleza da sua cidade.
Quando tirei esta fotografia, há alguns dias, de manhã cedo, um dos figurantes que se preparavam para começar mais um dia de Arte ofereceu-se para me deixar entrar, vendo o meu interesse. Agradeci, claro, mas ele disse-me que, depois de me introduzir na obra, teria que ir procurar novo emprego! Percebi que a Câmara mantinha o estaleiro oculto do público para que a instalação artística fosse "rigorosamente inútil", para que nem para ser apreciada servisse, ultrapassando, assim, A. na sua própria poética!
Descrevi, na altura, o artista como um funcionalista que exacerba a função estética; para ele a função da Arte é produzir emoções artísticas e essas emoções estão no cerne da espiritualidade humana. A Arte, para cumprir a sua função, segundo ele, tem que ser rigorosamente inútil, efémera e anônima.
| "Ceci", Arte Contemporânea rigorosamente inútil, uma grua em risco de ser posta a funcionar, depois de tantos anos parada, a servir de símbolo da obra pela obra --da Arte! |
Ora a nossa Câmara é muito sensível à opinião pública e desejava manter a obra no seu lugar cimeiro na cidade, como era o desejo dos tirsenses. Depois de difíceis negociações com o autor, conseguiu convencê-lo a permitir que "Ceci" continuasse, desde que toda a praça fosse transformada num estaleiro rigorosamente inútil, o qual criasse nos tirsenses "o delicioso incómodo da emoção artística" que A. sentira, fascinado, durante o "Porto, Capital Europeia da Cultura". Foi assim que a Câmara destruiu o jardim e fechou ruas, com o aplauso agradecido dos tirsenses, que apreciam a beleza da sua cidade.
Quando tirei esta fotografia, há alguns dias, de manhã cedo, um dos figurantes que se preparavam para começar mais um dia de Arte ofereceu-se para me deixar entrar, vendo o meu interesse. Agradeci, claro, mas ele disse-me que, depois de me introduzir na obra, teria que ir procurar novo emprego! Percebi que a Câmara mantinha o estaleiro oculto do público para que a instalação artística fosse "rigorosamente inútil", para que nem para ser apreciada servisse, ultrapassando, assim, A. na sua própria poética!
Ora, leitor, os taipais estão a ser retirados, a instalação temporária chega ao fim! Prevejo mesmo que "Ceci", o ready made feito com uma grua gigante, acabe por não resistir aos tempos de austeridade que por aí vêm e que a grua seja usada para recuperar o cinema, deixando de ser uma obra de Arte, "rigorosamente inútil"!
Daí a minha censura à Câmara.
Depois de tão louvável sacrifício económico em prol da Arte, eis que Santo Tirso se arrisca a perder o seu símbolo central. E para quê? Para fazer uma sala de espectáculos? Que emoções estéticas trará tal banalidade, a realizar-se, que visitantes poderá tal desistência trazer?
"Ceci" não é uma grua: é um direito adquirido dos tirsenses, os quais lutarão, na rua, se necessário for, para que a Arte continue a impor-se, à cidade e ao tempo!
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